sexta-feira, 11 de setembro de 2015

THE AGE OF ADALINE (2015) de Lee Toland Krieger



 The Age of Adaline de Lee Toland Krieger centra-se à volta da personagem de Adaline Bowman (Blake Lively), uma viúva que, em 1937 quando tinha 29 anos, sofre um bizarro acidente de carro durante uma tempestade e que resulta na paragem do envelhecimento de Adaline que a partir desse dia não volta a sofrer os efeitos físicos da passagem do tempo. Por um lado, isto é ridículo e açucaradamente romântico quando utilizado no contexto de um romance, por outro, existe uma fascinante complexidade temática que parece emergir de tal conceito. O filme, apesar de ter a possibilidade de ser uma fascinante criação não parece aproveitar grandemente o seu potencial, por vezes recusando-se a seguir as ideias mais complicadas sugeridas pela história.

 O filme decorre entre o presente e uma série de flashbacks que vão contando a solitária vida da protagonista ao longo dos anos. No presente, acompanhamos Adaline que trabalha no tematicamente relevante arquivo de uma biblioteca e que inicia um romance com Ellis Jones (Michiel Huisman), que mais tarde descobrimos ser o filho de uma antiga paixão de Adaline, William (Harrison Ford no presente e Anthony Ingruber no passado).  Um dos inescapáveis problemas do filme é quão aborrecido o romance central é, tornando grande porção do filme num poço de indiferença e desinteresse. Huisman é um grande culpado disto, sendo um vácuo de carisma, e sendo o pior parceiro de cena de Lively que parece variar em termos de qualidade consoante o ator com que tem de contracenar.

 O elenco, aliás, varia imenso entre o aborrecimento em atraente forma humana de Huisman e o trabalho surpreendentemente arrebatador e tocante de Ellen Burstyn no papel de Flemming, a filha da protagonista que, mesmo na velhice, continua a tratar a sua exteriormente jovem mãe como uma filha dedicada. Eu diria mesmo que as cenas entre Burstyn e Lively são os melhores momentos de The Age of Adaline, parecendo que o filme explode silenciosamente com toda a solidão e sentido de perda que se estão sempre a insinuar ao longo da narrativa. Ford também é bastante eficaz, e um par romântico infinitamente superior ao ator que interpreta o seu filho. Também com ele parece Lively encontrar o romantismo melancólico que a personagem tanto parece requerer. O trabalho da atriz é, como é usual na sua filmografia, notoriamente exterior e até superficial, o que funciona brilhantemente em grande parte do filme, tornando Adaline numa figura de melancolia aborrecida. Uma mulher aborrecida e entristecida com a sua vida e juventude intermináveis cuja única amiga para além da filha é necessariamente cega de modo a não poder ver a atriz no seu esplendor de juventude e vida. Quando necessário, a atriz tem uma habilidade surpreendente em apimentar a sua apatia elegante com um adequado sentido de melodrama romântico, mas maioritariamente com Ford e não com o ator com que o filme a parece forçosamente emparelhar, por muito que não funcione.

 Essa elegância na presença de Lively é uma constante em toda a atmosfera do filme. Uma elegância fria e distante, polida mas profundamente nostálgica e melancólica. O filme quase me lembra de The Curious Case of Benjamin Button, que com temas semelhantes também utilizou uma luminosidade suave e dourada para retratar o passado e o vagaroso avanço do tempo. Os figurinos também são de especial menção, especialmente os da porção moderna do filme que mostram uma estética pessoal na protagonista que reflete uma alma velha com gostos velhos num mundo que continua a implacavelmente avançar no tempo. Um olhar elegante e distante, uma beleza que parece aborrecer-se consigo mesma tal como o narrador, cujo tom aborrecido e distintamente culto, confere uma atmosfera fascinantemente característica ao filme.

 E é nesse aborrecimento tonal deliberado que florescem alguns dos mais interessantes temas do filme, o de que a mortalidade é necessária. A protagonista parece viver num perpétuo aborrecimento com a sua própria vitalidade eterna, chegando mesmo a dizer que é diferente ter uma relação amorosa quando não existe sequer a possibilidade de envelhecerem juntos. Há algo chocantemente maturo e sério no tratamento do filme da condição da protagonista, a vida eterna, mesmo estando contida num melodrama romântico, é uma constante fonte de solidão e a infinidade de possibilidades e inexistência de um final cria uma vivência de solidão e tristeza. O final do filme apenas reforça esta necessidade da mortalidade, sendo inesperado mesmo no modo como se manifesta com um passageiro sorriso e não com triunfo ou celebração. Pelo final do filme, Adaline apenas anseia por um fim visível, pela experiência de envelhecer e sair da sua estagnação temporal e existencial e isso é incrivelmente inesperado neste filme, para o qual eu não tinha quaisquer expetativas.

 The Age of Adaline, assim contém estas possibilidades fascinantes, estes temas abrasivos que se escondem e entrelaçam por entre o romantismo superficial do enredo. A estrutura catastrófica e a terrível falta de presença ou carisma do principal herói romântico rouba o filme da oportunidade de realmente se desenvolver em toda a sua melancolia existencial. A falta de ambição também contribui para isto, mas, com algumas mudanças, não consigo afastar a ideia que este filme poderia ter sido um maravilhoso melodrama romântico injetado com uma subtilidade e complexidade incomum, e não a coleção de potencial inalcançado que o filme na verdade é, apesar de muitos dos seus elementos serem, como já apontei, de louvor e admiração.


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