The
Age of Adaline de Lee Toland Krieger centra-se à volta da personagem de
Adaline Bowman (Blake Lively), uma viúva que, em 1937 quando tinha 29 anos,
sofre um bizarro acidente de carro durante uma tempestade e que resulta na
paragem do envelhecimento de Adaline que a partir desse dia não volta a sofrer
os efeitos físicos da passagem do tempo. Por um lado, isto é ridículo e
açucaradamente romântico quando utilizado no contexto de um romance, por outro,
existe uma fascinante complexidade temática que parece emergir de tal conceito.
O filme, apesar de ter a possibilidade de ser uma fascinante criação não parece
aproveitar grandemente o seu potencial, por vezes recusando-se a seguir as
ideias mais complicadas sugeridas pela história.
O filme decorre entre
o presente e uma série de flashbacks
que vão contando a solitária vida da protagonista ao longo dos anos. No
presente, acompanhamos Adaline que trabalha no tematicamente relevante arquivo
de uma biblioteca e que inicia um romance com Ellis Jones (Michiel Huisman),
que mais tarde descobrimos ser o filho de uma antiga paixão de Adaline, William
(Harrison Ford no presente e Anthony Ingruber no passado). Um dos inescapáveis problemas do filme é quão
aborrecido o romance central é, tornando grande porção do filme num poço de
indiferença e desinteresse. Huisman é um grande culpado disto, sendo um vácuo
de carisma, e sendo o pior parceiro de cena de Lively que parece variar em
termos de qualidade consoante o ator com que tem de contracenar.
O elenco, aliás,
varia imenso entre o aborrecimento em atraente forma humana de Huisman e o
trabalho surpreendentemente arrebatador e tocante de Ellen Burstyn no papel de
Flemming, a filha da protagonista que, mesmo na velhice, continua a tratar a
sua exteriormente jovem mãe como uma filha dedicada. Eu diria mesmo que as
cenas entre Burstyn e Lively são os melhores momentos de The Age of Adaline, parecendo que o filme explode silenciosamente com
toda a solidão e sentido de perda que se estão sempre a insinuar ao longo da
narrativa. Ford também é bastante eficaz, e um par romântico infinitamente
superior ao ator que interpreta o seu filho. Também com ele parece Lively
encontrar o romantismo melancólico que a personagem tanto parece requerer. O
trabalho da atriz é, como é usual na sua filmografia, notoriamente exterior e
até superficial, o que funciona brilhantemente em grande parte do filme,
tornando Adaline numa figura de melancolia aborrecida. Uma mulher aborrecida e
entristecida com a sua vida e juventude intermináveis cuja única amiga para
além da filha é necessariamente cega de modo a não poder ver a atriz no seu
esplendor de juventude e vida. Quando necessário, a atriz tem uma habilidade
surpreendente em apimentar a sua apatia elegante com um adequado sentido de
melodrama romântico, mas maioritariamente com Ford e não com o ator com que o
filme a parece forçosamente emparelhar, por muito que não funcione.
Essa elegância na presença
de Lively é uma constante em toda a atmosfera do filme. Uma elegância fria e
distante, polida mas profundamente nostálgica e melancólica. O filme quase me
lembra de The Curious Case of Benjamin
Button, que com temas semelhantes também utilizou uma luminosidade suave e
dourada para retratar o passado e o vagaroso avanço do tempo. Os figurinos
também são de especial menção, especialmente os da porção moderna do filme que
mostram uma estética pessoal na protagonista que reflete uma alma velha com gostos
velhos num mundo que continua a implacavelmente avançar no tempo. Um olhar
elegante e distante, uma beleza que parece aborrecer-se consigo mesma tal como
o narrador, cujo tom aborrecido e distintamente culto, confere uma atmosfera
fascinantemente característica ao filme.
E é nesse
aborrecimento tonal deliberado que florescem alguns dos mais interessantes
temas do filme, o de que a mortalidade é necessária. A protagonista parece
viver num perpétuo aborrecimento com a sua própria vitalidade eterna, chegando
mesmo a dizer que é diferente ter uma relação amorosa quando não existe sequer
a possibilidade de envelhecerem juntos. Há algo chocantemente maturo e sério no
tratamento do filme da condição da protagonista, a vida eterna, mesmo estando
contida num melodrama romântico, é uma constante fonte de solidão e a
infinidade de possibilidades e inexistência de um final cria uma vivência de
solidão e tristeza. O final do filme apenas reforça esta necessidade da
mortalidade, sendo inesperado mesmo no modo como se manifesta com um passageiro
sorriso e não com triunfo ou celebração. Pelo final do filme, Adaline apenas
anseia por um fim visível, pela experiência de envelhecer e sair da sua
estagnação temporal e existencial e isso é incrivelmente inesperado neste
filme, para o qual eu não tinha quaisquer expetativas.
The Age of Adaline, assim contém estas possibilidades fascinantes,
estes temas abrasivos que se escondem e entrelaçam por entre o romantismo
superficial do enredo. A estrutura catastrófica e a terrível falta de presença
ou carisma do principal herói romântico rouba o filme da oportunidade de
realmente se desenvolver em toda a sua melancolia existencial. A falta de
ambição também contribui para isto, mas, com algumas mudanças, não consigo
afastar a ideia que este filme poderia ter sido um maravilhoso melodrama
romântico injetado com uma subtilidade e complexidade incomum, e não a coleção
de potencial inalcançado que o filme na verdade é, apesar de muitos dos seus
elementos serem, como já apontei, de louvor e admiração.
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