sexta-feira, 18 de setembro de 2015

AMERICAN ULTRA (2015) de Nima Nourizadeh



 American Ultra é, essencialmente, uma mescla dos filmes da saga Bourne com o tipo de comédia normalmente designado como stoner comedy. Esta mistura não tem em si nada de necessariamente mau, sendo que Edgar Wright fez uma semelhante experiência com a sua Cornetto Trilogy. A diferença crucial entre estes dois exemplos está na inteligência e sofisticação de uma paródia e na banalidade e falta de originalidade da outra. Nesta comparação não é o filme de Nima Nourizadeh que “sai a ganhar”.

 O filme desenvolve-se à volta de Mike Howell (Jesse Eisenberg), um jovem sem grandes ambições que passa os seus dias a drogar-se, a trabalhar numa loja de conveniência e a desenhar, num caderninho seu, a história de um gorila herói de ação. Mike vive com a sua namorada, Phoebe (Kristen Stewart), e, quando o filme tem início, encontramos os dois a tentarem apanhar um avião e a serem retidos por um dos regulares ataques de pânico que afetam Mike. O protagonista atribui tais ataques ao seu uso de drogas, mas rapidamente descobrimos que se tratam, na verdade, de réstias da sua programação como uma verdadeira máquina de matar ao estilo de Jason Bourne. Um dia uma estranha mulher entra na loja onde trabalha e diz-lhe uma série de palavras sem significado percetível, sendo que depois disto a sua vida começa a descarrilar à medida que vários indivíduos misteriosos aparecem com o intuito de o matarem, ao que Mike responde com uma impressionante aptidão para a violência precisa e eficaz, surpreendendo-se a si mesmo pelo caminho, o que o deixa num estado de simples terror tanto de si mesmo como dos agressores que continuam a aparecer do nada.

 A mulher que despoleta a “ativação” de Howell é Victoria Lasseter (Connie Britton), uma agente da C.I.A. que esteve sobre o comando do projeto cujo único sobrevivente foi Mike. Depois do seu recentemente promovido superior, Adrian Yates (Topher Grace), ter ordenado a eliminação de Mike como parte da limpeza desse projeto falhado, Victoria decide tomar as rédeas da situação e, sem ponderar grandemente as consequências da situação, decide despoletar Mike em toda a sua assassina glória. E aí temos um dos maiores problemas do filme, a consequencialidade das ações das personagens. Um recente filme a quem eu teci enorme número de elogios foi It Follows, um slasher em que os adolescentes não eram estúpidos ou irracionais, aplicando inteligência e racionalidade básica às suas decisões ao longo do filme. Quem escreveu American Ultra não saberá o que básica racionalidade é, mesmo que tal conceito estivesse escrito na cabeça. Há uma estupidez básica que caracteriza todas as ações e escolhas das personagens do filme, que o filme poderia ter aproveitado mas nunca o faz, simplesmente deixa-se levar na má escrita e com uma dose preocupante de sinceridade, não permitindo qualquer riso irónico em relação à perfeita incompetência crónica dos seus heróis. O filme aliás vai-se tornando cada vez mais sério à medida que o enredo avança, acabando num registo mais perto do filme de ação do que da comédia.

  Os problemas do enredo não são, de todo, impossíveis de contornar, mas Nima Nourizadeh não é certamente o realizador para tal tarefa herculeana. A sua realização é desinteressante e desinspirada na maioria do filme, ocasionalmente caindo em inegável incompetência em algumas das cenas de ação, sendo que a coreografia e montagem de tais cenas são particularmente medíocres. Interessantemente, eu diria que são mesmo os momentos mais calmos e romanticamente focados do filme que estão melhor concretizados, mas isso poderá ser mais facilmente atribuído ao trabalho do elenco que ao trabalho do seu realizador.

 O elenco é, na sua generalidade, bastante sólido e eficaz, sendo que Topher Grace tem o mais difícil e caricaturado dos papéis, acabando por ser o ator que mais facilmente é enterrado pelos problemas textuais e tonais do filme. Britton é uma presença sempre bem-vinda a qualquer filme ou série televisiva, pelo menos para mim, e o seu palpável orgulho e pose superior são essenciais para o funcionamento do filme, sendo que é Victoria a principal impulsionadora de tudo o que acontece. 

 Mas são Stewart e Eisenberg as verdadeiras razões para se ver o filme, e são eles que ocasionalmente fazem com que as cansativas mecânicas formuláicas do filme resultem por alguns momentos. Stewart continua a sua meteórica ascensão como uma das mais interessantes atrizes da sua faixa etária a trabalhar hoje em dia em Hollywood, encontrando uma subtileza impressionante por entre os momentos iniciais do filme e conferido um palpável desespero e ferocidade quando um segredo seu é revelado, resultando num surpreendente impacto emocional e conferindo um centro emocional ao resto do filme, que apenas vai descarrilando mais à medida que se aproxima do final. Mas a emoção que descrevo não seria possível sem Eisenberg, que revela uma habilidade já sua conhecida para humor desconfortável, assim como uma magnífica sensação de perda e confusão assustadora à medida que mais segredos são revelados. Apenas nas cenas de ação é que o ator vacila, não sendo de todo capaz de apresentar de modo eficaz ou verosímil a dualidade de Mike, o que se torna especialmente marcado no final do filme.

  Sinceramente, não estou com muita vontade de gastar mais latim e tempo com este filme. Para grandes fãs de Eisenberg e Stewart o filme deverá ser uma agradável demonstração dos seus particulares talentos, mas para quem procure um bom filme ou uma comédia de ação minimamente funcional, eu sugiro que procurem outro filme. American Ultra consegue ser entediante apesar da sua promissora premissa inicial, não tem qualquer pitada de inteligência e, apesar de bons atores, é perfeitamente inconsequente e facilmente esquecível.


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