Tal como na maior parte das categorias técnicas, o Óscar de
Melhores Efeitos Visuais é usualmente dado tendo por base o critério da
quantidade e não da qualidade. Em geral, são filmes cheios de vistosos e
constantes efeitos gerados por computador a alcançarem nomeações e, nos últimos
anos, o vencedor é normalmente o nomeado para Melhor Filme com maior presença
de efeitos.
Com tudo isso em conta, a nomeação para a equipa de Ex
Machina é imensamente surpreendente e fenomenalmente deliciosa. Efeitos
subtis, perfeitamente executados e apropriadamente discretos, que são empregues
de modo essencial para a construção do filme em que se inserem. É uma triste
raridade, mas ainda bem que a Academia se recordou desta desafiadora obra de
cinema de ficção-científica.
Apesar deste aparente desgosto por efeitos visuais mais
discretos, um tipo usual de nomeação nesta categoria é a de um filme de
prestígio com uma sequência apoiada em vistosos e inescapáveis efeitos.
Seguindo esta lógica, o Hereafter deste ano é The
Revenant, que, sejamos sinceros, deve esta nomeação ao ataque de urso
que despoleta todo o enredo do filme.
The Revenant está nomeado também ao Óscar de Melhor Filme, assim
como outros dois nomeados nesta categoria, Perdido em Marte e Mad
Max: Estrada da Fúria. Em qualquer outro ano seria de esperar que um
destes três filmes arrecadasse este galardão, sendo que Perdido em Marte seria
o candidato mais tradicional.
Infelizmente para as equipas desses três filmes, eu prevejo
que o Óscar de Melhores Efeitos Visuais acabe por ser entregue a Star
Wars: O Despertar da Força. De todas as nomeações do maior blockbuster
de 2015, esta parece a mais facilmente ganha e eu duvido que a Academia perca
esta oportunidade de celebrar o monumental sucesso de bilheteiras que foi este
sétimo episódio da saga originalmente concebida por George Lucas.
RANKING DOS NOMEADOS:
5. The Revenant, Richard McBride, Matt
Shumway, Jason Smith e Cameron Waldbauer
(apesar deste vídeo se focar na maquilhagem, é possível nele vislumbrar alguns instantes do ataque da ursa)
“Ava é, obviamente, uma criação com propósitos sexuais.
Enquanto as suas mãos delicadas e face estão cobertas de “pele”, o resto do seu
corpo ou está definido pelos volumes de uma espécie de rede cinzenta, como o
peito de Ava, ou está com os seus complexos mecanismos visíveis. Nunca
duvidamos que Ava seja humana, ela é sempre apresentada como um mecanismo,
sempre a fazer ruídos mecânicos e num estado perverso de quase permanente
nudez. O seu design é uma perfeita visão da mulher tornada objeto sexual, aqui
com a inumanidade do termo objeto trazido a um extremo perturbante.”
A concretização em perfeito CGI do design acima descrito é,
para mim, o melhor efeito visual individual de todo este ano, e possivelmente
da década. Não há nada de desnecessariamente ostentoso na sua criação ou
apresentação, mas sim uma perfeita execução de um milagre de design e engenho.
Em Ava, e especialmente na sua desconcertante imagem sexualizada, estão
contidas as mais fascinantes ideias de todo o filme e tal nunca teria ocorrido
se os efeitos visuais fossem algo menos que perfeitos. Felizmente, a equipa de Ex
Machina foi capaz de trazer a vida as ideias de Alex Garland, e assim
temos um dos mais singulares filmes de ficção-científica dos últimos anos,
assim como uma das mais genialmente atípicas nomeações para o Óscar de Melhores
Efeitos Visuais desde a criação da categoria.
1. Mad Max: Fury Road, Andrew Jackson,
Tom Wood, Dan Oliver e Andy Williams
Hoje em dia, a maior parte dos cineastas, quando em
necessidade de montar explosivas cenas de ação cheias de complexas acrobacias e
demolidoras consequências físicas, tendem a recorrer, de modo quase normativo,
ao CGI, nunca sequer pondo em hipótese a execução desses stunts a partir de meios físicos. Inicialmente, o uso de efeitos
gerados por computador tinha sido uma abertura de portas, um alargamento de
horizontes cinemáticos, ao permitir a criação de visões antes impossíveis de
concretizar de modo prático. Infelizmente, com a crescente dependência do
cinema por este tipo de efeitos, ao invés de expandirem as possibilidades do
meio, estes efeitos estão a começar a limitar. Felizmente, por vezes aparece
uma preciosa raridade, um filme que apenas usa efeitos gerados por computador
como complemento de efeitos físicos, ou então como solução para ideias
impossíveis de realizar mesmo com a mais avançada engenharia contemporânea. Um
desses elefantes brancos do cinema atual é Mad Max: Fury Road, um filme que é
praticamente uma sequência de ação contínua, em que colossais veículos se
despedaçam numa turbulenta perseguição por um deserto pós-apocalíptico. Cenas
como a final corrida para os heróis chegarem ao citado desprotegido, são
verdadeiros milagres do uso magistral de efeitos físicos, sendo que este tipo
de acrobacias perigosíssimas têm em si uma fisicalidade impossível de
perfeitamente reproduzir em computador. Mas não se trata apenas do uso de
efeitos físicos, pois o CGI de Mad Max é igualmente soberbo, com o
braço mecânico de Furiosa e a alucinatória tempestade de areia a serem de
merecido destaque. Tal como tudo neste filme, o trabalho da equipa de efeitos
visuais é uma mostra de mestria técnica apoiada numa visão singular e
formidavelmente concretizada sem os usuais compromissos estilísticos a que
estamos habituados no cinema de Hollywood.
PREVISÕES E DESEJOS:
Quem vai ganhar: Star Wars: The Force Awakens
Quem eu quero que ganhe: Ex Machina
Quem merece ganhar: Mad Max: Fury Road
Cinco escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade
da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.
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