domingo, 14 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHORES EFEITOS VISUAIS



Tal como na maior parte das categorias técnicas, o Óscar de Melhores Efeitos Visuais é usualmente dado tendo por base o critério da quantidade e não da qualidade. Em geral, são filmes cheios de vistosos e constantes efeitos gerados por computador a alcançarem nomeações e, nos últimos anos, o vencedor é normalmente o nomeado para Melhor Filme com maior presença de efeitos.

Com tudo isso em conta, a nomeação para a equipa de Ex Machina é imensamente surpreendente e fenomenalmente deliciosa. Efeitos subtis, perfeitamente executados e apropriadamente discretos, que são empregues de modo essencial para a construção do filme em que se inserem. É uma triste raridade, mas ainda bem que a Academia se recordou desta desafiadora obra de cinema de ficção-científica.

Apesar deste aparente desgosto por efeitos visuais mais discretos, um tipo usual de nomeação nesta categoria é a de um filme de prestígio com uma sequência apoiada em vistosos e inescapáveis efeitos. Seguindo esta lógica, o Hereafter deste ano é The Revenant, que, sejamos sinceros, deve esta nomeação ao ataque de urso que despoleta todo o enredo do filme.

The Revenant está nomeado também ao Óscar de Melhor Filme, assim como outros dois nomeados nesta categoria, Perdido em Marte e Mad Max: Estrada da Fúria. Em qualquer outro ano seria de esperar que um destes três filmes arrecadasse este galardão, sendo que Perdido em Marte seria o candidato mais tradicional.

Infelizmente para as equipas desses três filmes, eu prevejo que o Óscar de Melhores Efeitos Visuais acabe por ser entregue a Star Wars: O Despertar da Força. De todas as nomeações do maior blockbuster de 2015, esta parece a mais facilmente ganha e eu duvido que a Academia perca esta oportunidade de celebrar o monumental sucesso de bilheteiras que foi este sétimo episódio da saga originalmente concebida por George Lucas.




RANKING DOS NOMEADOS:


5. The Revenant, Richard McBride, Matt Shumway, Jason Smith e Cameron Waldbauer


(apesar deste vídeo se focar na maquilhagem, é possível nele vislumbrar alguns instantes do ataque da ursa)

Sim, o ataque de uma ursa a proteger as suas crias é uma espetacular montra para os efeitos visuais de The Revenant, mas está longe de ser a apoteose dos efeitos especiais em cinema que tantos artigos na internet parecem proclamar. O modo como os movimentos de DiCaprio enquanto está ser chacinado são um milagre de engenharia cinematográfica, mas, para mim, a animação do urso deixa um pouco a desejar, com a criatura a parecer estranhamente mais fisicamente realista quando é vista estática e em pormenor do que nos seus violentos movimentos. Independentemente dessa sequência, os efeitos de The Revenant são maioritariamente impressionantes, com a ajuda de CGI a ser uma necessidade invariável para sequências tão violentas e caóticas como o ataque de nativos americanos que abre o filme. A única falha descarada desta equipa é, para mim, a queda de uma falésia dada pelo protagonista e seu cavalo, de resto este é um louvável trabalho e uma boa nomeação para um filme em que os efeitos visuais não são o principal foco da mise-en-scène.




4. The Martian, Richard Stammers, Anders Langlands, Chris Lawrence e Steven Warner


É impossível imaginar Perdido em Marte sem os seus eficazes efeitos visuais, sendo que é um imperativo para o funcionamento da narrativa que a paisagem e atmosfera marciana seja indubitavelmente credível para a audiência. Mas não é somente o planeta vermelho a demonstrar os fenomenais efeitos visuais em ação no mais recente filme de Ridley Scott, sendo que todas as cenas dedicadas à equipa da missão que deixou o protagonista sozinho em Marte são uma verdadeira explosão de efeitos visuais brilhantemente realizados, sem pirotecnias desnecessárias. De destacar está a visualização da nave com uma estrutura giratória, assim como toda a atribulada sequência do derradeiro salvamento de Mark Whatney. O único aspeto relativamente negativo que eu tenho a apontar é o modo como depois de filmes como Interstellar e Gravity, os efeitos de Perdido em Marte parecem tragicamente prosaicos e desinspirados, apesar de toda a sua abjeta eficiência.




3. Star Wars: The Force Awakens, Roger Guyett, Pat Tubach, Neal Scanlan e Chris Corbould


Primeiro, os aspetos negativos. Maz Kanata apesar de ser brilhantemente desenhada é claramente digital quando posta em direta comparação e interação com os restantes atores presentes nas suas cenas. Algumas das paisagens e fundos são notoriamente polidos e demasiado perfeitos, falta alguma rudeza que torne em credíveis alguns dos ambientes presentes no mais recente filme desta saga originada em 1977. Tirando isso, os efeitos visuais de Star Wars: O Despertar da Força são um absoluto espetáculo cinemático, onde efeitos de outrora são aperfeiçoados pelas tecnologias contemporâneas, como as batalhas travadas dentro de veículos espaciais e os sabres de luz, e onde uma maravilhosa coleção de novas e memoráveis visões são oferecidas à deleitada audiência. Francamente, a mera criação de BB-8, um milagre de animação e design, é razão suficiente para merecer a esta equipa o Óscar e é um verdadeiro testamento à geral qualidade desta categoria o facto de Star Wars: O Despertar da Força não se encontrar no topo desta lista.




2. Ex Machina, Andrew Whitehurst, Paul Norris, Mark Williams Ardington e Sara Bennett


Da minha crítica de Ex Machina:

“Ava é, obviamente, uma criação com propósitos sexuais. Enquanto as suas mãos delicadas e face estão cobertas de “pele”, o resto do seu corpo ou está definido pelos volumes de uma espécie de rede cinzenta, como o peito de Ava, ou está com os seus complexos mecanismos visíveis. Nunca duvidamos que Ava seja humana, ela é sempre apresentada como um mecanismo, sempre a fazer ruídos mecânicos e num estado perverso de quase permanente nudez. O seu design é uma perfeita visão da mulher tornada objeto sexual, aqui com a inumanidade do termo objeto trazido a um extremo perturbante.”

A concretização em perfeito CGI do design acima descrito é, para mim, o melhor efeito visual individual de todo este ano, e possivelmente da década. Não há nada de desnecessariamente ostentoso na sua criação ou apresentação, mas sim uma perfeita execução de um milagre de design e engenho. Em Ava, e especialmente na sua desconcertante imagem sexualizada, estão contidas as mais fascinantes ideias de todo o filme e tal nunca teria ocorrido se os efeitos visuais fossem algo menos que perfeitos. Felizmente, a equipa de Ex Machina foi capaz de trazer a vida as ideias de Alex Garland, e assim temos um dos mais singulares filmes de ficção-científica dos últimos anos, assim como uma das mais genialmente atípicas nomeações para o Óscar de Melhores Efeitos Visuais desde a criação da categoria.




1. Mad Max: Fury Road, Andrew Jackson, Tom Wood, Dan Oliver e Andy Williams


Hoje em dia, a maior parte dos cineastas, quando em necessidade de montar explosivas cenas de ação cheias de complexas acrobacias e demolidoras consequências físicas, tendem a recorrer, de modo quase normativo, ao CGI, nunca sequer pondo em hipótese a execução desses stunts a partir de meios físicos. Inicialmente, o uso de efeitos gerados por computador tinha sido uma abertura de portas, um alargamento de horizontes cinemáticos, ao permitir a criação de visões antes impossíveis de concretizar de modo prático. Infelizmente, com a crescente dependência do cinema por este tipo de efeitos, ao invés de expandirem as possibilidades do meio, estes efeitos estão a começar a limitar. Felizmente, por vezes aparece uma preciosa raridade, um filme que apenas usa efeitos gerados por computador como complemento de efeitos físicos, ou então como solução para ideias impossíveis de realizar mesmo com a mais avançada engenharia contemporânea. Um desses elefantes brancos do cinema atual é Mad Max: Fury Road, um filme que é praticamente uma sequência de ação contínua, em que colossais veículos se despedaçam numa turbulenta perseguição por um deserto pós-apocalíptico. Cenas como a final corrida para os heróis chegarem ao citado desprotegido, são verdadeiros milagres do uso magistral de efeitos físicos, sendo que este tipo de acrobacias perigosíssimas têm em si uma fisicalidade impossível de perfeitamente reproduzir em computador. Mas não se trata apenas do uso de efeitos físicos, pois o CGI de Mad Max é igualmente soberbo, com o braço mecânico de Furiosa e a alucinatória tempestade de areia a serem de merecido destaque. Tal como tudo neste filme, o trabalho da equipa de efeitos visuais é uma mostra de mestria técnica apoiada numa visão singular e formidavelmente concretizada sem os usuais compromissos estilísticos a que estamos habituados no cinema de Hollywood.




PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Star Wars: The Force Awakens

Quem eu quero que ganhe: Ex Machina

Quem merece ganhar: Mad Max: Fury Road




Cinco escolhas alternativas que a Academia ignorou*:




*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


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