sábado, 13 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR MONTAGEM



Hoje em dia parece que muitos confundem as palavras melhor com mais, sendo que a melhor maneira de um filme assegurar uma nomeação para os Óscares é demonstrar uma enorme grandiosidade vistosa nos seus aspetos técnicos. Outrora, a montagem classicista de Hollywood deveria ser invisível e eficiente, agora, parece que o objetivo de muitos filmes é tornar a montagem em algo inescapável. É desses impulsos que devém a nomeação para Hank Corwin, um editor que eu admiro pelo seu trabalho com Terrence Malick e Oliver Stone, mas que este ano recebeu a sua primeira nomeação pelo que é, provavelmente, o seu pior trabalho de sempre, The Big Short.

Também vistosa é a montagem de Margaret Sixel, a mulher de George Miller, de Mad Max: Fury Road, não fosse este o filme de ação mais explosivo a sair da produção de Hollywood nas últimas décadas. Igualmente violento na sua intensidade sensorial, mas imensamente mais prosaico e desinteressante na sua ideologia e intenções é The Revenant, que assegura aqui mais uma nomeação para Stephen Mirrione que, com as suas colaborações com Steven Soderbergh, já assegurou a sua importância no panteão do cinema americano contemporâneo, tendo ganho um Óscar por Traffic em 2000.

Outro vistoso filme de ação foi a grande surpresa desta categoria, Star Wars: The Force Awakens. Todos estavam a prever que The Martian fosse nomeado, mas o trabalho de Maryann Brandon e Mary Jo Markey aparentemente conseguiu capturar a atenção da Academia.

Por último temos o trabalho de Tom McArdle em Spotlight, uma mostra de magnífica subtileza, tal como todos os aspetos do filme. Francamente, apesar de ter incluído clips de cada um dos nomeados, grande parte destes editores demonstram a sua grande mestria no modo como constroem ritmos sublimes na totalidade dos seus filmes. Infelizmente em alguns destes filmes, é esse aspeto a precisa desgraça da sua montagem.




RANKING DOS NOMEADOS:



5. Hank Corwin em The Big Short



Por muito que eu ame o trabalho passado de Corwin, tenho de admitir que penso que o que este mestre da montagem fez em The Big Short é merecedor de um Razie especial. O filme de Adam McKay já é, só como uma narrativa, um pesadelo de indisciplina estrutural e estilística, mas com a montagem de Corwin, o desastre do filme é exacerbado a níveis desesperantes. Em todo o ano de 2015 este é o filme mais conspicuamente editado, pedindo à audiência que preste atenção à sua descoordenada tentativa de injetar energia nos procedimentos expositivos do filme. Infelizmente, essa procura de energia nunca é mais do que uma tentativa fracassada, sendo que a manipulação de Corwin é tão desastrada e declarativa que apenas consegue distrair a audiência. Aliás, isso segue todo a repugnante abordagem do filme que decide que vai oferecer à audiência uma barragem de importantes informações, ao mesmo tempo que continuamente tenta reduzir o peso e negar a seriedade dessas mesmas informações a partir de vistosas pirotecnias técnicas e estruturais. Para além de tudo isto, as descaradas quebras de continuidade, o desleixado uso de planos em movimentos e zooms constantes, e a constante obsessão em reduzir numerosas cenas a sequências de grandes planos caoticamente intercalados, apenas demonstram este raro e estranho rasgo de incompetência da parte de Hank Corwin.



4. Stephen Mirrione por The Revenant


Os meus problemas com o trabalho de Stephen Mirrione não se encontram na sua montagem de cenas individuais ou sequências, mas sim na sua orquestração da totalidade do filme. Em momentos individuais e examinados em separado do completo The Revenant, o trabalho de Mirrione é impressionante, especialmente na sua reticência e uso mínimo de cortes, deixando a movimentação da câmara de Lubezki esvoaçar pelo espaço, conferindo à audiência um assombroso sentido de realidade espacial e temporal. Quando Mirrione passa de um plano para outro, as suas escolhas raramente parecem arbitrárias, mas sim o resultado de uma cuidada consideração dos ritmos internos de cada momento. Infelizmente, tal mestria rítmica está ausente da tapeçaria cinematográfica que é o filme completo que, com 156 minutos, é uma experiência de repetição exaustiva das mesmas ideias e incontornável tédio. É fácil imaginar uma versão de The Revenant que, apesar de conter os mesmos problemas ideológicos característicos da abordagem formal e narrativa de Iñarritu, seria um filme muito superior, simplesmente pela sua brevidade e eficiência estrutural. No final, a extensa e desnecessária duração de The Revenant serve apenas como mais um elemento de perniciosa hubris cinematográfica e desleixada ambição por uma importância e complexidade que o filme simplesmente não possui.
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3. Maryann Brandon e Mary Jo Markey por Star Wars: The Force Awakens


O trabalho de Maryann Brandon e Mary Jo Markey no mais recente filme da saga Star Wars é quase que o reverso dos esforços de Stephen Mirrione em The Revenant. O ritmo que estas duas editoras encontram na totalidade de Star Wars: The Force Awakens é fenomenal, não permitindo que o filme caia em desnecessários momentos mortos, e tecendo uma formidável tapeçaria de novas narrativas e caracterizações que se apresentam em perfeito equilíbrio. Há que louvar o modo como estas editoras parecem ter-se recordado que um ritmo lento e duração extensa não são necessariamente marcas de qualidade ou elementos que contribuam para uma experiência “épica”, sendo que o seu trabalho é muscular e eficiente a um nível raramente visto em blockbusters deste tipo no atual panorama do cinema americano. Por outro lado, existem inúmeras sequências individuais em que a montagem deixa algo a desejar, como no clímax final em que Abrams está declarativamente a copiar a mesma multiplicidade de cenas de ação que tanto caracterizam o final de O Regresso do Jedi. Neste filme, infelizmente, o equilíbrio da montagem trai a tensão da narrativa e perde a intensidade necessária para tal explosão de ação. Outros momentos individuais pecam por uma desleixada manipulação de planos e durações que nunca chegam à qualidade dos filmes anteriores, sendo que a cena nos domínios de Maz Kanata é uma triste e ineficaz imitação dos ritmos de um momento imensamente semelhante no primeiro filme de 1977.



2. Tom McArdle por Spotlight


De entre esta coleção de nomeados, o trabalho de Tom McArdle é, sem dúvida, o mais discreto e convencionalmente classicista. Há pouco de vistoso ou conspícuo na abordagem deste editor, com a sua simples concretização de inúmeros diálogos e entrevistas a ser a principal marca estilística da montagem de Spotlight. O modo como McArdle edita estas cenas dominadas pela partilha de informação é simples, mas eficiente, com a atenção de McArdle às reações silenciosas dos seus atores a ser particularmente louvável. Mesmo assim, o grande destaque do seu trabalho em Spotlight é o modo como os ritmos precisos de McArdle fazem com que a narrativa se mova com uma surpreendente velocidade, apesar da carga informativa que tem de suportar. Quando acabei de ver Spotlight, não conseguia acreditar que já tivessem passado mais de duas horas e esse é um dos maiores elogios que eu posso dar a um editor.




1. Margaret Sixel por Mad Max: Fury Road


Na mesma medida em que o trabalho de McArdle é discreto, o de Margaret Sixel é explosivo e inescapável, mas também na mesma medida em que The Big Short demonstra uma montagem indisciplinada e desleixada, Mad Max: Fury Road é um milagre de energética montagem e pura genialidade rítmica. Para um filme que é praticamente um contínuo encadeamento de cenas de ação sobre rodas, a montagem é essencial, delineando tensões, narrativas humanas, a geografia da cena, a espacialidade das movimentações e exacerbando os momentos mais intensos de cada porção dos momentos de ação. O trabalho de Sixel é frenético mas magistral, mantendo um ritmo perfeitamente calibrado e muscular desde a eletrizante abertura, passando por pontuais momentos de paz para a audiência recuperar o fôlego, até ao glorioso final. Não há uma única fragilidade a apontar aqui, e se este fosse um mundo justo não haveria qualquer discussão sobre quem deveria arrecadar este Óscar, infelizmente não vivemos em tal utopia. Mesmo assim, a mera existência de tal magnificência cinematográfica é suficiente recompensa para a sua genial editora. Simplesmente brilhante!




PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Margaret Sixel (acho que estou em negação das probabilidades de Hank Corwin ganhar este Óscar)

Quem eu quero que ganhe: Margaret Sixel

Quem merece ganhar: Margaret Sixel



5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:

  •  Claudia Castello e Michael P. Shawver por Creed
  • Affonso Gonçalves por Carol
  • Valentyn Vasyanovych por Plemya



*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


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