quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR FOTOGRAFIA




Mesmo que eu não concorde por completo com esta seleção de nomeados, tenho de dizer que esta é das melhores categorias nesta edição dos Óscares. Mesmo o trabalho de Robert Richardson que eu considero como o pior destes cinco, é um exemplo de imensa ambição visual.

À qualidade geral da categoria ajuda o facto que estes cinco diretores de fotografia são alguns dos melhores a trabalhar no cinema contemporâneo, sendo que três destes homens já são vencedores de edições anteriores. Richardson, que é um frequente colaborador de Quentin Tarantino e Martin Scorsese, já ganhou três Óscares pelo seu trabalho em JFK de Oliver Stone e The Aviator e Hugo de Scorsese. John Seale arrecadou o Óscar pelo seu trabalho em The English Patient, um épico situado no deserto africano com um estilo completamente distinto do filme de George Miller pelo qual este diretor de fotografia se encontra indicado este ano.

É difícil recordar o tempo, há 3 anos, em que Emmanuel Lubezki era um dos eternos injustiçados da Academia. A sua filmografia é uma coleção de triunfos geniais, sendo que as suas colaborações com Alfonso Cuáron e Terrence Malick são de particular destaque. Aliás, apesar do seu primeiro Óscar ter vindo de uma colaboração com Cuáron em Gravity, é fácil de perceber que foi a ligação estética de Lubezki ao cinema de Malick que levou o realizador de The Revenant a tanto posicionar o seu trabalho, especialmente o movimento de câmara e vistoso uso de luz natural, como componente principal do discurso visual do filme.

Do outro lado desta equação de magistrais diretores de fotografia temos Roger Deakins e Ed Lachman. O diretor de fotografia de Carol é um indiscutível mestre desta arte, sendo que o seu trabalho em Longe do Paraíso é um dos píncaros do cinema da década passada, mas entre estes dois, Deakins é quem merece finalmente levar para casa um Óscar depois da sua carreira e numerosas nomeações sem sucesso. Para além do mais, com a sua contribuição para o cinema de animação, poder-se-á afirmar que destes nomeados, apenas Deakins realmente avançou e desenvolveu a fotografia de cinema enquanto técnica e arte.




RANKING DOS NOMEADOS:



5. Robert Richardson por The Hateful Eight






Filmado em pelicula de 65mm, mais tarde exposta nos cinemas em 70mm, Os Oito Odiados é uma obra que procura reproduzir a opulência majestosa dos spaghetti westerns dos anos 60 e 70, nomeadamente as obras de mestres como Sergio Leone e Carlos Simi. O píncaro do trabalho de Robert Richardson neste filme é certamente a primeira secção do filme, situada nos exteriores nevosos do Wyoming. A escala épica das imagens conjuradas por Richardson são arrebatadoras, utilizando por completo o esplendor daquele que é o formato mais largo disponível. Quando o filme se fixa no interior da Minnie’s Haberdasherie, Richardson perde a beleza monumental do mundo natural e o formato do filme é como que posto em direto contraste com as limitações claustrofóbicas do ambiente físico. Isto é uma escolha interessante, mas as composições e a iluminação de Richardson ricas em contraluzes e esquemas artificialmente dramáticos, conferem ao filme uma debilitante teatralidade que retira dinamismo visual a toda a construção de Os Oito Odiados.




4. Emmanuel Lubezki por The Revenant






Com o seu uso exclusivo de luz natural e uma orgiástica utilização de complexos movimentos de câmara, a fotografia de The Revenant é quase uma paródia do estilo característico de Emmanuel Lubezki. Na sua generalidade, as escolhas deste génio mexicano demonstram a sua usual mestria, sendo que as paisagens verdejantes que normalmente se encontram no seu trabalho com Malick são aqui substituídas por uma paisagem de gélida frieza invernal. A única coisa que eu consigo realmente apontar a um nível técnico é a redundância desta nomeação, pois estes mecanismos estilísticos foram há muito desenvolvidos e mostrados, de modo mais triunfante, em filmes anteriores, sendo que muitos deles foram ignorados pelos Óscares. No entanto, a um nível conceptual, o trabalho de Lubezki acaba por exacerbar alguns dos monumentais problemas que eu tenho com esta obra de Alejandro G. Iñarritu, nomeadamente o modo a abordagem de Lubezki mostra aqui uma polidez coreografada que não se encontrava em filmes como O Novo Mundo, assim como uma obsessão em filmar Leonardo DiCaprio a partir de grotescos ângulos e intrusivos grandes planos que vão realçando o seu sofrimento de um modo quase pornográfico. Um trabalho indubitavelmente belo e primoroso, mas que não demonstra grande complexidade conceptual e apenas ajuda o filme a cair em algumas das suas mais perniciosas fragilidades.



3. John Seale por Mad Max: Fury Road







Já escrevi um inteiro post sobre a genialidade das imagens de Mad Max: Estrada da Fúria, mas, apesar disso, é impossível elogiar em demasia o trabalho de Seale nesta obra-prima do cinema de ação contemporâneo. O uso de cores saturadas, reduzindo o filme a uma tempestade de laranjas acídicos e azuis cortantes, é uma parte essencial da estética do filme, mas também há que salientar outras escolhas visuais de Seale, como a sua mestria na captura dos minúsculos detalhes inseridos em todos os adereços, espaços e roupas, contribuindo consideravelmente para o visual ensandecidamente barroco desta obra da saga Mad Max. A acrescentar a estes elementos cromáticos e de foque, as composições e movimentos conjurados por Seale são igualmente magistrais, sendo que alcançar tal perfeição não terá sido tarefa fácil com o constante movimento dos principais cenários do filme, as condições das filmagens no deserto, e a colossal quantidade de efeitos visuais práticos utilizados neste filme.



2. Roger Deakins por Sicario







Esta é a 13ª nomeação de Roger Deakins. 13ª!!!! Alguém dê um Óscar a este homem por favor…

Continuando. Apesar do trabalho de Deakins em Sicario não estar aos níveis do que ele alcançou em Skyfall, por exemplo, no que diz respeito a alargar os horizontes da fotografia digital, há que reconhecer a sua incalculável contribuição para o filme. A um nível mais conceptual, é impossível não celebrar o modo como Deakins se recusa veemente a diferenciar entre os EUA e o México com uso de luzes amarelas ou filtros, reduzindo ambas as nações a infinitas extensões de desertos esbranquiçados e sem vida. Isto pode parecer pouco, mas tendo em conta o que se pode ver na televisão e cinema americano desde 2000, a abordagem de Deakins é quase revolucionária, indo de encontro aos elementos mais inteligentes e subversivos do guião. A um nível mais técnico, o modo como Deakins captura o céu e a própria atmosfera dos espaços fechados é algo que mais nenhum diretor de fotografia consegue reproduzir, sendo que aqui existe uma estonteante palpabilidade nas imagens. A acrescentar a estes elogios tenho de destacar a maravilhosa precisão e cortante uso de luz nas cenas noturnas, algo que, pelo menos desde Fargo em 1996, se tem provado como uma das especialidades de Deakins.



1. Ed Lachman por Carol






Inspirando-se na fotografia de Saul Leiter e utilizando película de 16mm, Ed Lachman criou um dos filmes mais belos de 2015 e certamente o mais elegante. Ao contrário da sua abordagem em Longe do Paraíso em que este diretor de fotografia reproduziu a luxuriante cor e artificialidade dos melodramas de Douglas Sirk, o trabalho de Lachman em Carol demonstra uma abordagem infinitamente mais subtil na captura da atmosfera visual de uma época passada. As imagens parecem fotografias granuladas que ganharam vida, com cores esbatidas e sedutoramente suaves, que por vezes desvendam rasgos de intensidade cromática em pormenores como as unhas rosa numa mão perfeitamente cuidada ou o amarelo de uma blusa. Como a narrativa romântica do filme, a sua fotografia existe assim num plano de constante equilíbrio formal, quase frio, que vai sendo quebrado em explosões apaixonantes de dinamismo visual. Apesar de toda esta beleza, no entanto, Lachman permite a existência de um inesperado realismo, permitindo que certos ambientes urbanos se exponham na sua fealdade monótona, sem os glamourizar com as suas lentes, sem, como que por milagre, perder o equilíbrio visual de toda a obra. Francamente, Lachman merece o Óscar nem que seja apenas pelas cenas passadas dentro do carro da personagem titular, onde os vidros e as gotículas de chuva se tornam em mundos de infinito prazer visual, e o olhar das personagens se materializa nas imagens de Lachman que, com o seu uso de baixas profundidades focais, se parecem desmaterializar em manchas de luz, cor e hipnotizante movimento.







PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Emmanuel Lubezki
Quem eu quero que ganhe: Roger Deakins
Quem merece ganhar: Ed Lachman



5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:

  • Maryse Alberti por Creed
  • Adam Arkapaw por Macbeth
  • Ali Olcay Gözkaya por Praia do Futuro
  • Sturla Brandth Grøvlen por Victoria
  • Steven Soderbergh por Magic Mike XXL

*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


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