sábado, 13 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR CARACTERIZAÇÃO



De todas as categorias dos Óscares, esta é a única que ainda se mantém com apenas três nomeados, para além de ter sido uma das categorias mais tardiamente criadas, sendo que este Óscar foi pela primeira vez entregue, num panorama competitivo, a An American Werewolf in London de 1981. O ridículo desta situação é inegável, especialmente quando consideramos que praticamente todos os filmes têm departamentos de caracterização. Esta é uma componente técnica que merece, na minha opinião, muito mais reconhecimento que, por exemplo, canções originais ou mesmo efeitos especiais, dois aspetos que marcam presença num número relativamente diminuto de filmes.

Ao longo da sua breve história esta categoria tem sido dominada por vistosas transformações feitas à base de prostéticos, ignorando, infelizmente, outros tipos de caracterização, igualmente louvável mas muito menos vistosa. Mesmo com a recente alteração do nome desta categoria de “Best Achievement in Makeup” para “Best Achievement in Makeup and Hairstyling”, os seus nomeados ainda são maioritariamente caracterizados por explosões de pirotecnia técnica e chamativos virtuosismos, sendo que trabalhos mais subtis são tradicionalmente esquecidos aquando das nomeações.

Outro interessante aspeto desta categoria é a sua curiosa propensão para nomear filmes completamente inesperados ou desconhecidos. A indicação mais surpreendente deste ano é certamente O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu, um filme sueco que poucos conheciam antes de ter sido divulgada a lista de finalistas para esta categoria.

Em termos de previsões, eu penso que qualquer um destes nomeados poderá alcançar uma vitória dia 28 deste mês. The Revenant, com as suas 12 nomeações, é um dos óbvios favoritos da Academia e a transformação de Leonardo DiCaprio é capaz de arrecadar atenção suficiente para que o filme ganhe este troféu. Por outro lado, Mad Max: Estrada da Fúria tem uma maquilhagem muito mais vistosa e variada que The Revenant, assim como um considerável apoio da Academia, com 10 nomeações incluindo para Melhor Filme. Por fim, O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu é uma descarada montra para um dos tipos de maquilhagem prediletos da Academia, caracterização de envelhecimento, pelo que este filme poderá também ser um viável vencedor.




RANKING DOS NOMEADOS:









Eu não partilho a louca adoração da Academia por maquilhagem de envelhecimento, sendo que, para mim, os resultados de tais transformações são raramente plausíveis e acabam por usualmente se tornar numa distração perniciosa para a total qualidade de um filme. Em O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu, a maquilhagem é a verdadeira estrela do filme e o seu melhor aspeto. Tendo em conta a qualidade do filme como um todo, dizer que a maquilhagem é o seu melhor aspeto está longe de ser um elogio com algum módico de positivismo. Na verdade, para mim, a maquilhagem deste filme é pouco mais que uma montra de virtuosismos técnicos sem pouca ponderação sobre os efeitos dessa mesma técnica na experiência do filme. As transformações de vários atores em personalidades célebres da história europeia e americana são particularmente atrozes, convertendo atores em descaradas caricaturas ao invés de credivelmente povoarem o filme com alguns dos seres humanos mais significativos na história do século XX. Independentemente desses cameos de personalidades como Francisco Franco e Josef Stalin, a principal transformação do filme é o progressivo envelhecimento da personagem principal que vemos desde que é criança até à idade centenária do título. Esta é uma impressionante maquilhagem, mas, especialmente nas etapas mais avançadas da idade do protagonista, a caracterização tem uma feia tendência em limitar os movimentos faciais do ator de modo notório. Um trabalho impressionante e vistoso, mas pouco sofisticado ou particularmente louvável.




2. The Revenant, Sian Grigg, Duncan Jarman e Robert A. Pandini






Sian Grigg é o homem responsável pela caracterização de Leonardo DiCaprio em todos os seus filmes desde Titanic. Só pela longevidade desta colaboração e pela geral celebração de DiCaprio nesta Awards Season, eu penso que esta equipa poderá ganhar o Óscar, por muito que esse galardão pouco se vá dever ao seu concreto trabalho e mais a uma narrativa típica destes prémios de cinema. É claro que devemos lembrar que essa colaboração já resultou em desastres como a gárgula rugosa que foi Leonardo DiCaprio no final de J. Edgar, sendo que, felizmente, The Revenant não é um deles. A coleção de mazelas e horrendas feridas que cobrem o corpo do protagonista de The Revenant são impressionantes e bastante vistosas, apesar de por vezes serem pouco convincentes. Apesar dessa transformação física representar a parte mais memorável da caracterização de The Revenant, eu diria mesmo que é o menos louvável elemento da sua maquilhagem. Muito mais interessante e admirável é, para mim, a caracterização das personagens nativo americanas, um trabalho que revela uma magnífica pesquisa histórica e cuidada procura por uma autenticidade incomum neste tipo de cinema, mesmo na nossa contemporaneidade. Igualmente fantástico, é a caracterização das restantes personagens que inicialmente acompanham a personagem de DiCaprio, sendo que a maquilhagem se torna numa parte essencial da mise-en-scène ao perfeitamente registar o efeito das duras condições climatéricas nas faces cansadas do elenco.




1. Mad Max: Fury Road, Lesley Vanderwalt, Elka Wardega e Damian Martin






Para mim, esta é a única escolha racional nesta categoria. Como é possível negar a genialidade da caracterização de Mad Max: Estrada da Fúria? Enquanto os outros dois nomeados apresentam uma minúscula variedade estilística nas suas façanhas de maquilhagem, com as marcas de sofrimento humano em The Revenant e o envelhecimento em O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu, a obra-prima de George Miller é uma maravilhosa coleção de variedade imagética com cada personagem a oferecer uma perfeita concretização visual, que muitas vezes tende a cair numa magistral explosão de bizarro e grotesco. O filme mereceria o Óscar somente pela genial e simples maquilhagem de Charlize Theron com a sua face coberta por óleo de motor, mas ainda temos os doentios War Boys com as suas numerosas variações de uma aparência cadavérica, o esplendor das noivas de Imortan Joe, a pele ressequida desse mesmo ditador, as tatuagens que cobrem o corpo de Miss Giddy, as marcas do escaldante sol do deserto nas faces das Vuvalini e até a horrenda e estranhíssima face do guitarrista do exército em perseguição dos nossos heróis. Um trabalho absolutamente genial, completamente inesquecível, e magistralmente coeso na sua criação de uma credível realidade pós-apocalíptica. Bravo!



PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: The Revenant

Quem eu quero que ganhe: Mad Max: Fury Road

Quem merece ganhar: Mad Max: Fury Road



3 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:

  • Carol, Jerry DeCarlo e Patricia Regan
  • Macbeth, Jenny Shircore, Joe Hopker e Marc Pilcher
  • Spy, Debra Denson, Trefor Proud, Sarah Love e Linda D. Flowers




*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


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