terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR ATOR SECUNDÁRIO



Tradicionalmente, tenho de admitir, o Óscar de Melhor Ator Secundário é certamente a categoria de atuação que menos interesse tem despertado em mim. Possivelmente isto é uma consequência deste prémio ser um estranho veículo para atores conceituados receberem recompensas de carreira, sendo que, em certos anos, parece que a qualidade individual das prestações nomeadas é colocada em segundo plano em prol de narrativas e campanhas desenvolvidas em volta de filmografias ilustres.
Este ano, curiosamente, não sinto que esse seja o caso. De facto, os dois grandes frontrunners, Mark Rylance e Sylvester Stallone são curiosas anomalias. Nenhum deles possui os anos de filmes criticamente aclamados que outros vencedores já possuíram, apesar de que a campanha de Stallone é fortemente apoiada na sua longevidade profissional e que Rylance é um dos mais aclamados intérpretes de teatro em língua inglesa da atualidade.

Outra tendência que felizmente se começou a dissipar foi certamente a de usar esta categoria para reconhecer os vilões mais marcantes dos filmes de prestigio. Este ano isso apenas caracteriza a prestação de Tom Hardy, que também foi certamente auxiliado pelo amor geral que agraciou o seu filme assim como pelo curioso facto de que sempre que foi nomeado para Melhor Ator, Leonardo DiCaprio foi acompanhado por um dos seus colegas a ser nomeados para Melhor Ator Secundário. Deste modo Hardy junta-se a Jonah Hill, Djimon Hounson e Alan Alda. É claro que há que se reconhecer o modo como a carreira em meteórica ascensão de Hardy foi também de grande ajuda para a sua indicação aqui. Com o inegável sucesso de Mad Max: Fury Road, o reconhecimento crítico por prestações em filmes como Legend, Locke e Bronson e a celebridade que o ator tem adquirido pelo seu trabalho em blockbusters, especialmente os filmes de Christopher Nolan, Hardy é uma escolha apropriada se os Óscares querem reconhecer um dos jovens atores com maiores esperanças de ter um futuro de monumental sucesso e prestígio.

Mark Ruffalo e Christian Bale são dois atores que grandemente devem as suas nomeações ao sucesso dos seus filmes respetivos. Com elencos enormes, The Big Short e Spotlight ofereceram aos membros da Academia amplas escolhas para esta categoria, mas estes dois anteriores nomeados, e vencedor no caso de Bale, destacaram-se. Penso que esse destaque se deve ao modo como Bale e Ruffalo escolhem abordagens bastante díspares e discordantes do resto dos elencos em que se incluem mas esse tipo de análise é mais apropriado para o meu ranking dos nomeados.



RANKING DOS NOMEADOS



5. Tom Hardy em The Revenant



Em The Revenant, Tom Hardy acrescenta mais um grosseiro sotaque e grotesco registo vocal à sua curiosa coleção que inclui filmes como The Dark Knight Rises e Mad Max: Fury Road. Mais do que se integrar na sua prestação de modo orgânico, ajudando a uma caracterização naturalística, esta decisão técnica da parte de Hardy apenas distrai, especialmente quando posto em direta comparação com os restantes membros do seu elenco. Há uma qualidade imensamente vistosa no trabalho de Hardy, como se o ator estivesse aterrorizado de perder energia ou a atenção constante do seu público. Junte-se a isto uma panóplia de maneirismos telegrafados sem o mínimo de subtileza e um filme completamente focado numa pretensão de ultranaturalismo e Hardy é uma perfeita catástrofe, possivelmente mais merecedor de um Razzie que de um Óscar. Mesmo assim, tenho de admitir que o seu trabalho me deu um curioso prazer, injetando uma teatral e energética presença à carcaça de um filme cuja representação de sofrimento humano é uma perfeita ilustração da experiência que é a tortura que a obra inflige sobre sua audiência. Grotesco, exagerado, completamente unidimensional na sua vilania e impossivelmente ridículo, é uma tragédia que esta prestação marque a primeira nomeação de um ator tão promissor como Hardy, mas há sempre a esperança que nomeações mais merecidas se encontrem no seu futuro.



4. Mark Ruffalo em Spotlight



A prestação coletiva do elenco de Spotlight é caracterizada por uma enorme modéstia e descrição. Nada de gritos ou histerias despropositadas, o modo como Tom McCarthy dirige os seus atores e evita sentimentalismos inapropriados ou manipulações emocionais forçadas é um dos melhores aspetos deste grande favorito ao Óscar de Melhor Filme. É pena, portanto, que a única prestação a fugir a este registo tenha sido a escolhida pela academia aquando da votação para Melhor Ator Secundário. Mark Ruffalo é um ator que eu admiro há anos, especialmente a sua habilidade em nunca deixar qualquer esforço transparecer nas suas caracterizações, resultando num naturalismo descontraído e sem os histrionismos que usualmente resultam em nomeações aos prémios da Academia de Hollywood. Em Spotlight, no entanto, o ator cai nessas mesmas histrionias, adotando um estado de constante fúria moral que nunca é explorada com qualquer subtileza, mas sim gritada e exposta em cenas de explosiva e inapropriada intensidade. O seu trabalho em Spotlight representa o tipo de abordagem medíocre e óbvia que podia ter levado o filme a ser apenas mais uma enfadonha obra de cinema de prestígio americano e não a subtil criação de preciso humanismo que acabou por ser. Como consequência disto mesmo tenho de dizer que, invariavelmente da qualidade técnica do seu trabalho, Mark Ruffalo é o pior membro do elenco do seu filme e um injusto nomeado a este Óscar que seria uma honra mais apropriada a um imenso número de outros atores de Spotlight como Michael Keaton, Liev Schreiber ou Stabnley Tucci, entre muitos outros.
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3. Christian Bale em The Big Short



Bale em The Big Short é o estranho oposto de Ruffalo em Spotlight. Enquanto o nomeado do filme de Tom McCarthy destoa do seu filme devido à sua abordagem histriónica, Bale destoa do seu filme e elenco como consequência de uma abordagem muito menos caricaturada ou redutora que a dos seus colegas no elenco de The Big Short. Sinceramente, a única razão pela qual coloquei esta prestação acima da de Ruffalo é o facto de Spotlight ser um ótimo filme ligeiramente prejudicado pelas escolhas do ator nomeado, enquanto The Big Short é um filme imensamente problemático que depende da presença contrastante de Bale para injetar alguma humanidade nos seus procedimentos narrativos. Independentemente de tudo isto, a prestação de Bale como Michael Burry, o primeiro indivíduo a realmente se aperceber da catástrofe económica que estava para se abalar sobre o mundo em 2008, é caracterizada pela usual pirotecnia técnica do ator. Burry é, em The Big Short, uma nervosa pilha de maneirismos e ineptidão social. Contudo, Christian Bale consegue transparecer uma inegável insegurança e frustração nas atitudes da sua personagem, elevando a desumanidade do seu filme a algo mais interessante e complexo. Tal como The Big Short, a prestação de Bale é bastante errática e rasgada por momentos de curiosa indisciplina, mas, ao contrário do filme da generalidade do filme de McKay, Christian Bale também tem ocasionais momentos de palpável humanidade.



2. Mark Rylance em Bridge of Spies



Poucos seriam os atores que conseguiriam pegar na catchphrase “Would it help?” e torná-la em algo mais que uma irritante gracinha textual. Felizmente para A Ponte dos Espiões, Mark Rylance é um desses atores e, apesar do seu incontornável pedigree teatral, e criticamente aclamadas aventuras passadas no mundo do cinema, o intérprete nunca se deixa cair em distrativos jogos de primor técnico ou vistosos mecanismos. Pelo contrário, Mark Rylance pega num papel marcado no texto pela sua reticência e opacidade, e constrói uma prestação que se rege por essas mesmas intenções estilísticas, tornando em Abel, um espião soviético, uma figura distante e suficientemente misteriosa para que a audiência não perca o interesse na sua figura, ou no seu destino. O génio de Rylance poderá não ser muito aparente nessa sua opacidade, mas é visível na afável postura do ator que, de uma personagem muito pouco definida textualmente, consegue conjurar uma palpável presença humana sem abdicar desse mesmo mistério e descrição exigidas pela narrativa. O modo como todo o final ato do filme se torna numa melancólica tragédia humana em redor do seu destino incerto é um testamento ao impacto que Rylance teve na audiência. Para um ator deste calibre, a prestação final poderá não ser algo de monumentalmente impressionante ou um bom reflexo da sua genialidade artística, mas é inegável como a sua modesta mestria funciona dentro dos convencionalismos de Spielberg e como todo o edifício cinematográfico de A Ponte dos Espiões seria prejudicado sem o seu consumado trabalho.



1. Sylvester Stallone em Creed



Da minha crítica de Creed:

“Rocky é um mamute vivo, um fóssil que ainda respira e vibra com uma cansada vitalidade. Ele é um homem que perdeu as pessoas mais importantes na sua vida e que, na sua velhice, parece estar desgastado pelo simples ato de continuar a viver, não fosse a luminosa presença de Adonis, que força este herói a regressar às suas glórias e a lutar pela sua existência, contra a doença, contra o desgaste do tempo e contra a inevitabilidade da sua irrelevância no panorama da atualidade. Aquando de uma coleção de intensas confrontações entre o jovem lutador e o seu mentor, Stallone demonstra uma subtileza emocional mais poderosa que qualquer outro trabalho na filmografia do ator, cuja própria linguagem corporal enquanto Rocky Balboa demonstra a formidável força do seu físico passado obscurecida pelo implacável peso dos anos, da idade e da fatiga.”

Nunca pensei que chegasse o dia em que eu estaria a selecionar Sylvester Stallone como minha escolha para um Óscar, mas aqui estamos. O ator deve muito ao magistral argumento que manobra um perfeito equilíbrio entre uma ponderação sobre as glórias passadas, sua assimilação na contemporaneidade em forma de lenda, e a necessidade de seguir em frente face ao incerto futuro, assim como à direção de Ryan Coogler, mas nada disso lhe retira mérito. Uma das mais comoventes prestações do ano e possivelmente o melhor trabalho na carreira desta ator. Bravo!



PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Mark Ruffalo
Quem eu quero que ganhe: Sylvester Stallone
Quem merece ganhar: Sylvester Stallone


5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
  • Emory Cohen em Brooklyn
  •  John Cusack em Chi-Raq
  • Oscar Isaac em Ex-Machina
  •  Michael Shannon em Freeheld
  • Benicio del Toro em Sicario

*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.

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