terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR ARGUMENTO



Como os Óscares raramente mostram grande interesse pelo que se convencionou chamar de cinema de autor, a componente textual dos filmes nomeados tem tendência a ser posta em grande evidência e posição de destaque, sendo que é uma raridade quando uma obra ganha o máximo galardão de Melhor Filme sem ter sequer uma nomeação numa das categorias para Melhor Argumento. Infelizmente, eu não sei se tal se vai confirmar este ano, ou se seremos testemunhas de uma infeliz irregularidade com a vitória de The Revenant, mas isso é uma conversa para outro dia.

Na categoria de Melhor Argumento Adaptado houveram poucas surpresas este ano. A única exclusão de algum destaque foi mesmo o argumento de Steve Jobs escrito por Aaron Sorkin. Existem poucos argumentistas com o estatuto de celebridade e Sorkin é um deles o que, juntamente com a sua vitória nos Globos de Ouro, parecia profetizar uma nomeação aqui, mas parece que os Óscares não se deixaram convencer pela sua brincadeira com estruturas teatrais e mania de fragmentar os seus textos em contínuos seguimentos de grandes e megalómanos discursos.

Outra exclusão de um argumentista bastante famoso foi a de Quentin Tarantino que, inesperadamente, não foi aqui indicado pelo seu controverso mas popular trabalho em Os Oito Odiados. Tarantino ainda há pouco tempo ganhou um Óscar para Melhor Argumento Original e é estranho não o ver nesta lista de nomeados, especialmente se tivermos em consideração quem foi nomeado no seu lugar.

Duas surpreendentes inclusões marcaram a categoria de Argumento Original, onde Straight Outta Comtpon arrecadou a sua única indicação. Já era de esperar que este filme, que foi das obras mais lucrativas nos cinemas americanos em 2015, fosse nomeado para algo mas muitos ficaram surpreendidos quando esse reconhecimento se manifestou numa nomeação pelo seu texto, um dos seus aspetos mais problemáticos e cuja autoria é exclusiva de escritores caucasianos, não ajudando, portanto, quaisquer alegações de diversidade pela Academia.

O outro nomeado surpresa foi Ex Machina, que, ao ser um filme de ficção-cientifica, encontrava.se com uma diabólica desvantagem para obter esta nomeação. Os Óscares parecem ter uma aversão inexplicável ao género e é por isso fantástico ver como os votantes se lembraram do trabalho de Alex Garland, especialmente se considerarmos quão ideologicamente desafiante o seu texto consegue ser com as suas explorações de sexualidade, identidade e autenticidade humana.

Uma pequena vitória na luta pela diversidade de representação nos Óscares manifestou-se, no entanto, nestas mesmas categorias, com vários filmes centrados em volta de personagens femininas a arrecadarem nomeações, o que é, infelizmente, uma raridade, Carol, Room, Brooklyn, Ex Machina e Inside Out. O caso do filme da Pixar é de particular destaque, sendo que toda a premissa narrativa do filme se desenvolve em torno de uma exploração metafórica da psique de uma jovem rapariga em crescimento.

Apesar de tudo isso, tenho de dizer que os prováveis vencedores serão filmes com mínima presença feminina, ou qualquer ilusão de diversidade. Spotlight e The Big Short parecem destinados a ganhar estes galardões, e a não ser que nos esperem grandes surpresas na cerimónia de dia 28, tenho sérias dúvidas que outros filmes consigam reunir votos suficientes para sequer ameaçarem o domínio destas obras.




RANKING DOS NOMEADOS (Argumento Adaptado):



5. Charles Randolph e Adam McKay por The Big Short baseado no livro de Michael Lewis


Da minha crítica de A Queda de Wall Street:

The Big Short apresenta-se como uma exposição da catástrofe que foi o despoletar da crise económica em 2008, oferecendo às suas audiências um lugar de primeira fila para o cataclismo ao acompanhar alguns dos poucos homens que se aperceberam do desastre iminente e conseguiram lucrar a partir do cataclismo financeiro. O filme também se apresenta como uma explicação acessível e divertida, ao estilo de programas como o Daily Show ou o Last Week Tonight, da complicada realidade dos jogos monetários de Wall Street, sendo que, infelizmente, é impossível olhar o produto final sem observar ora uma colossal condescendência dos cineastas para com a sua audiência ora uma estranha e desconfortável atitude de leviano desprezo para com a importância e seriedade das suas informações que tanto tenta transmitir a partir de joviais e desnecessários truques cinematográficos.”

Eu não acho que o humor seja uma forma necessariamente errada para se abordar temas tão sérios como a crise económica que em 2008 arrasou todo o mundo, mas The Big Short não é esse filme. Eu, pessoalmente tenho pouca paciência para os trejeitos e devaneios humorísticos da bro culture da atualidade, o que me diferencia imenso de grande parte da audiência deste filme assim como dos seus autores, e que faz de mim alguém que dificilmente conseguiria aceitar esta abordagem com algo mais que simples desdém. Com tudo isto dito, mesmo ignorando os meus gostos pessoais, o argumento deste filme é um verdadeiro pesadelo de desleixada estruturação dramática, vazias caracterizações, ritmos ineficientes e uma catastrófica dependência de declarativos e constantes momentos de exposição.




4. Emma Donoghue por Room baseado no seu romance


Se há um aspeto da adaptação de literatura para cinema que sempre me irritou, é o uso de voz-off como meio para transmitir monólogos interiores que narram um livro. Sempre me pareceu um mecanismo imensamente simplista e cronicamente anti cinemático. Por vezes resulta brilhantemente, mas essas ocasiões são um elefante branco no panorama do cinema, e, infelizmente, o texto de Room não é essa tão preciosa raridade. Eu percebo o modo como Donoghue recorre à voz interior de Jack para melhor dramatizar a sua viagem emocional, mas isso prende o filme às suas raízes literárias de um modo imensamente distrativo e rouba ao fabuloso protagonista a oportunidade de construir a sua prestação somente a partir das ações da narrativa. O modo como o argumento usa este recurso dramático de modo intermitente e fortemente errático ainda piora a situação, o que, combinado com uma infeliz tendência a cair em desnecessários sentimentalismos, poderia facilmente resultar em desastre. Felizmente, Donoghue tem a inteligência e a ligação ao material que lhe permitem conceber uma delicada teia de complexas caracterizações que tornam Room num arrebatador retrato humano. O modo como Donoghue nunca foge aos aspetos mais abrasivos dos sobreviventes que protagonizam a narrativa é outro grande ponto forte, assim como o é a grande consistência e delicadeza com que a autora concebe a personagem de Jack e sua perceção do mundo ao longo do filme, uma evolução que é tão expressa a um nível emocional como a um nível linguístico.




3. Drew Goddard por The Martian baseado no romance de Andy Weir


Tal como muito mencionei na minha crítica de Perdido em Marte, um dos melhores aspetos desta nova obra de Ridley Scott é o seu tom leve e cómico, uma imensa raridade na filmografia do realizador britânico e no panorama do cinema que conta histórias de sobrevivência. Nunca li a obra de Andy Weir, ou qualquer porção dela, mas tenho de admirar a sagacidade humorística de Drew Goddard, ao conceber a existência de Mark Watney, o protagonista do filme, como uma constante tentativa de encher um asfixiante silêncio, sendo que o filme quase parece dever algum do seu registo textual à atual cultura de youtubers e vloggers. Mais ainda que essa leveza tenho de destacar o equilíbrio estrutural que Goddard estabelece entre a figura isolada de Watney e toda equipa de numerosos indivíduos encarregues de planear e concretizar o seu difícil resgate. Quando fui ver este filme aos cinemas, pouco sabia sobre a obra e esperava ir ser testemunha de mais uma narrativa de um herói individual a triunfar devido à sua sobre-humana ingenuidade, pelo que fiquei completamente deliciado pelo modo como Goddard se recusa a cair em tais simplismos arquétipos e escreve uma gloriosa coleção de interessantes personagens a trabalhar em equipa para chegar ao seu objetivo. Raramente o cinema americano permite que o heroísmo seja um ato coletivo e não um triunfo individual, pelo que, nem que for só por isso, eu tenho de mostrar admiração e apreço pelos esforços de Drew Goddard em Perdido em Marte.




2. Nick Hornby por Brooklyn baseado no romance de Colm Tóibin


Da minha crítica de Brooklyn:

“Uma das mais significantes fragilidades do filme é, aliás, o modo como nunca permite que as decisões da sua protagonista sejam expressas de modo orgânico, estando sempre a forçar mecanismos narrativos para avançar mais facilmente o enredo. Não sei se isso é uma consequência do livro de Colm Tóibin, ou se é um fruto da sua adaptação, mas o facto é que este elemento se revela como um dos maiores problemas de Brooklyn enquanto filme.”

Essa insistência em roubar a personagem de Eilis de agência e controle sobre o desenrolar da sua narrativa pessoal é certamente o maior problema presente no texto de Brooklyn. No entanto, por muito prejudicial que seja essa fragilidade e por muito que ela acabe por reduzir grandes partes da narrativa a etéreas passagens de tempo sem consequência, Brooklyn consegue elevar-se acima desses problemas. O texto de Nick Hornby pode ser um pouco simplista no seu tratamento dramático de Eilis, sua protagonista, mas de resto, todas as personagens do filme são concretizadas textualmente com uma delicada humanidade que pinta o filme com o que parece ser uma das mais belas paisagens humanas do cinema de 2015. Esse pano de fundo humano é a melhor parte do texto de Hornby, mas o autor é igualmente exímio na construção do apaixonante e delicioso romance entre Eilis e Tony, como que emulando semelhantes narrativas do cinema de outros tempos, sem criar uma mimese distrativa. É fascinante observar como Hirby concebe neste romance uma melancolia profunda, mas não por isso sufocante, um romance fogoso mas não agressivo, e uma história dramática que no entanto nunca é desafiante. Nem tudo resulta neste argumento, mas o que resulta consegue rivalizar os mais textualmente sofisticados filmes de 2015.




1. Phyllis Nagy por Carol baseado no romance de Patricia Highsmith


Um dos aspetos mais fascinantes e geniais de Carol é a magistralmente delicada adaptação que Phyllis Nagy fez da obra original de Patricia Highsmith. No romance, originalmente publicado com o título The Price of Salt, toda a narrativa romântica é experienciada através da insular perspetiva de Therese Belivet, sendo que o seu crescimento emocional, a sua autodescoberta se tornam as principais forças narrativas. Por consequência, a figura de Carol existe como um objeto de desejo, como uma imagem indefinida de luxo, erotismo e atração, cuja psique e vida nunca são mais que um esboço criado pela perspetiva subjetiva de Therese. No filme, o texto de Nagy tem a espetacular habilidade de alterar radicalmente esta perspetiva, expandindo e humanizando a personagem titular, ao mesmo tempo que faz do olhar de Therese um componente essencial do romance. Ao tornar Therese numa fotógrafa, e não na cenógrafa que ela é no romance, Nagy não só pegou na narrativa subjetiva do livro e a telegrafou sem cair em usuais clichés como o uso de voz-off, como conferiu ao filme um formidável ponto de partida para toda a sua construção tonal e visual. Mais ainda que isso, Nagy prova-se aqui como uma absoluta mestra da economia verbal e sagacidade humanista, construindo um argumento em que cada palavra proferida esconde uma multitude de realidades e camadas de sentido e onde as delicadas especificidades do ato de se apaixonar por alguém é retratado com uma visceralidade curiosamente elegante e subtil.



PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: The Big Short

Quem eu quero que ganhe: Carol

Quem merece ganhar: Carol



5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
  • Andrew Haigh por 45 Years baseado no conto de David Constantine
  • Spike Lee e Kevin Willmott por Chi-Raq baseado na peça Lisistrata de Aristófanes
  • Ryan Coogler e Aaron Covington por Creed baseado nas personagens criadas por Sylvester Stallone
  • Marielle Heller por The Diary of a Teenage Girl baseado no livro de Phoebe Gloeckner
  • Jacob Koskoff, Michael Lesslie e Todd Louiso por Macbeth baseado na peça de William Shakespeare


*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.




RANKING DOS NOMEADOS (Argumento Original):



5. Andrea Berloff, Jonathan Herman, S. Leigh Savidge e Alan Wenkus por Straight Outta Compton


Eu já calculava que Straight Outta Compton fosse receber uma nomeação, mas tenho de confessar que nunca me passou pela cabeça que essa nomeação se materializasse nesta categoria. De todos os elementos do filme o texto será certamente o seu pior, sendo que uma nomeação para o espetacular elenco, para o expressivo trabalho de som, ou mesmo para a energética e dramática direção fariam, para mim, muito mais sentido. À superfície, Straight Outta Compton é uma narrativa biográfica fortemente cimentada numa grande fúria política, sendo que o material verídico deveria sugerir uma certa fogosidade e ousadia que infelizmente nunca se mostram. Eu diria até que Straight Outta Compton é uma das obras mais confortáveis e perniciosamente seguras a sair recentemente dos estúdios de Hollywood. As personagens que são o sujeito do filme tiveram uma vida cheia de dramáticos acontecimentos, cheia de uma fascinante complexidade, e até de mostras de grandes crueldades, como no seu tratamento de várias companheiras femininas que nunca são mencionadas no filme. Este filme devia pulsar com a irreverência da música cuja criação se propõe a retratar, mas acaba somente por se reduzir a uma versão limpa e polida da história. Todo este material tinha imenso potencial e merecia um tratamento textual muito melhor. Enfim, é isto que acontece quando celebridades se envolvem na criação das suas próprias biografias. Talvez daqui a umas décadas tenhamos outra versão desta história que se deixe levar pela complicada existência destes artistas, pela volátil qualidade das suas vidas e pela enfurecida indignação social e política que arde nas letras das suas canções, ao invés deste filme amarrado a um texto que nunca o permite elevar-se a essa grandeza.




4. Matt Charman, Ethan Coe e Joel Coen por Bridge of Spies


Da minha crítica de A Ponte dos Espiões:

“(…)O texto dos Coen é de particular relevância, conferindo uma certa acidez textual que vai sempre complicando mesmo os impulsos mais adocicados da mise-en-scène de Spielberg(…)”

Apesar do filme estar construído numa base de doce e reconfortante nostalgia, A Ponte dos Espiões é uma sublime montra de como convencionalismo pode ser usado para desafiar as suas audiências. Por exemplo, ao criar no centro do seu filme uma personagem tão cimentada na retidão moral e ética que veio a caracterizar um certo tipo de identidade nacional americana, os autores do argumento deste thriller político, construíram um perfeito veículo para uma examinação das hipocrisias que dominaram e ainda dominam o pensamento nacional quando se fala da Guerra Fria. Ao contrário de Lincoln, A Ponte dos Espiões não é uma obra sobre as maquinações políticas de um momento fulcral da História Americana, mas sim uma reflexão sobre os valores humanos e sociais dessa mesma época. Estruturado à volta de longas cenas de diálogo, ridículos teatros de subterfúgios e negociações escondidas, e ocasionais momentos de sufocante tensão, o texto de A Ponte dos Espiões maneja um delicado equilíbrio tonal, onde o humor está sempre disponível para conceder alguma leveza aos procedimentos narrativos, sem, no entanto, os roubar da sua importância. É convencional, certamente, mas elegante na sua construção e com poucas fragilidades, sendo que uma delas é a sua insatisfatória dependência de catchphrases como meios de caracterização.




3. Alex Garland por Ex Machina


Da minha crítica de Ex Machina:

“É bastante sentido nas repetidas conversas entre Caleb e Ava que o realizador pretendia algo profundo e inequivocamente fascinante e que capturasse a atenção da audiência, mas o uso de fórmulas e arquétipos deste tipo de cinemas prova-se tanto uma bênção como um problema difícil de resolver. Há algo de cansativamente previsível no filme, que ao mesmo tempo lhe confere um sentido de tragédia inevitável.”

Apesar destas fragilidades, a que se acrescentam o modo como Ex Machina aborda os seus temas a partir de narrativas e teorias já exploradas muito mais formidavelmente noutros filmes, penso que devemos dar ao argumento de Alex Garland o seu devido valor. Hoje em dia a ficção científica como género cinematográfico parece estar a perder uma das suas facetas mais fascinantes, a de permitir teorização de conceitos abstratos dificilmente explorados noutros filmes. Estamos longe dos anos áureos da década de 70, mas, apesar disso, Alex Garland teve a bravura de pegar no que poderia ser uma básica e desinteressante história de horror num futuro não muito distante, e conceber a partir dessa base uma enfurecida, mas clínica, dissecação de conceitos tão usualmente evitados como a sexualidade, a identidade e a natureza do que é ser humano, onde as convenções de género e atração poderão ser nada mais que um constructo artificial, recusando-se a reconfortar a sua audiência, preferindo espicaçá-la. Não é uma obra perfeita, mas é um filme que muita discussão gerou, muito pensamento e teoria germinou e por isso merece a minha apreciação e merece um certo módico de celebração.




2. Josh Singer e Tom McCarthy por Spotlight


Da minha crítica de Spotlight:

“Escrito por Tom McCarthy e Josh Singer, o argumento de Spotlight é uma magistral criação de equilíbrio tonal e de sublime balanço humano, emocional e factual. Nunca tendo sombra de dúvida da estarem no lado certo da justiça em relação a esta narrativa, os dois autores tecem uma teia de brilhantes personagens baseadas em contrapartes reais, e vão oferecendo pequenas doses de informação pessoal sem caírem em demasiada exposição. As cenas de exposição são, aliás, nunca oferecidas como caracterização declarada mas como veículos de criarem um retrato de enganadora modéstia sobre uma comunidade, uma cidade apoiada na sua identidade religiosa. Para além do mais, o modo como as relações de poder económico e moral vão sendo delicadamente reveladas, incluindo algumas verdades abrasivas sobre a realidade longe de ser perfeita da instituição do Boston Globe, dá um toque de bem-vinda complexidade a um filme que ameaça sempre tornar-se uma elegia inapropriadamente celebrativa dos seus heróis centrais.”

Tenho pouco a acrescentar a estas minhas palavras. O Caso Spotlight está longe de ser um exemplo de inovação estrutural ou textual, mas é uma obra de elegante eficiência cinematográfica. Um triunfo que não anuncia a sua grandeza com a vistosa pomposidade que costume manifestar-se neste género de cinema de prestígio, Spotlight seria um excelente vencedor nesta categoria.




1. Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley e Ronnie Del Carmen por Inside Out


Da minha crítica de Divertida-mente:

“Parte dessa glória narrativa devém da clara influência de Pete Docter, o mais emocionalmente maturo e aventuroso de todos os realizadores da Pixar, que ajuda este filme a se afirmar como um dos seus mais ousados a um nível narrativo e conceptual. Não que tudo isto seja um simples exercício intelectual, pois Inside Out contém em si uma avassaladora carga emocional. A final resolução, uma surpreendente celebração e defesa da necessidade de sentimentos negativas e complexidade emocional como parte do processo de crescimento, é uma das mais merecidamente lacrimosas na recente história do cinema de animação. E isto tudo, sem sequer mencionar Bing Bong, uma potente surpresa que eu não quero estragar a quem não tenha visto esta formidável explosão de criatividade.”

O argumento de Inside Out é um milagre de ambição e inteligência tonal. Que outro estúdio de animação americano, que não a Pixar teria a coragem de desenvolver um filme em volta de uma narrativa que é, essencialmente, uma longa metáfora, em que as protagonistas são manifestações corporais de conceitos emocionais abstratos? Que o filme funciona é um milagre ainda maior que a sua ambição e o seu triunfo é uma das melhores glórias do passado ano cinematográfico. Melhor ainda, o argumento de Inside Out, apesar de simplificar um pouco a psique humana na sua rígida estratificação e construção de um mundo metafórico, é incrivelmente recheado de humor, sendo uma das mais hilariantes comédias do ano. Inside Out concede à sua audiência tantas lágrimas como risos, como momentos de melancolia e reflexão sobre verdades e realidades poucas vezes examinadas em cinema deste tipo. É uma maravilha!



PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Spotlight

Quem eu quero que ganhe: Ex Machina

Quem merece ganhar: Inside Out



5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
  • Marc Basch e Brett Haley por I’ll See You in My Dreams
  • Anna Boden, Ryan Fleck por Mississippi Grind
  • Deniz Gamze Ergüven e Alice Winocour por Mustang
  • Sean Baker e Chris Bergoch por Tangerine



*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico


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