Como os Óscares raramente mostram grande interesse pelo que
se convencionou chamar de cinema de autor, a componente textual dos filmes
nomeados tem tendência a ser posta em grande evidência e posição de destaque,
sendo que é uma raridade quando uma obra ganha o máximo galardão de Melhor
Filme sem ter sequer uma nomeação numa das categorias para Melhor Argumento.
Infelizmente, eu não sei se tal se vai confirmar este ano, ou se seremos
testemunhas de uma infeliz irregularidade com a vitória de The Revenant, mas isso é
uma conversa para outro dia.
Na categoria de Melhor Argumento Adaptado houveram poucas
surpresas este ano. A única exclusão de algum destaque foi mesmo o argumento de
Steve
Jobs escrito por Aaron Sorkin. Existem poucos argumentistas com o
estatuto de celebridade e Sorkin é um deles o que, juntamente com a sua vitória
nos Globos de Ouro, parecia profetizar uma nomeação aqui, mas parece que os Óscares
não se deixaram convencer pela sua brincadeira com estruturas teatrais e mania
de fragmentar os seus textos em contínuos seguimentos de grandes e megalómanos
discursos.
Outra exclusão de um argumentista bastante famoso foi a de
Quentin Tarantino que, inesperadamente, não foi aqui indicado pelo seu
controverso mas popular trabalho em Os Oito Odiados. Tarantino ainda há
pouco tempo ganhou um Óscar para Melhor Argumento Original e é estranho não o
ver nesta lista de nomeados, especialmente se tivermos em consideração quem foi
nomeado no seu lugar.
Duas surpreendentes inclusões marcaram a categoria de Argumento
Original, onde Straight Outta Comtpon arrecadou a sua única indicação. Já era
de esperar que este filme, que foi das obras mais lucrativas nos cinemas
americanos em 2015, fosse nomeado para algo mas muitos ficaram surpreendidos
quando esse reconhecimento se manifestou numa nomeação pelo seu texto, um dos
seus aspetos mais problemáticos e cuja autoria é exclusiva de escritores
caucasianos, não ajudando, portanto, quaisquer alegações de diversidade pela
Academia.
O outro nomeado surpresa foi Ex Machina, que, ao ser
um filme de ficção-cientifica, encontrava.se com uma diabólica desvantagem para
obter esta nomeação. Os Óscares parecem ter uma aversão inexplicável ao género
e é por isso fantástico ver como os votantes se lembraram do trabalho de Alex
Garland, especialmente se considerarmos quão ideologicamente desafiante o seu
texto consegue ser com as suas explorações de sexualidade, identidade e
autenticidade humana.
Uma pequena vitória na luta pela diversidade de
representação nos Óscares manifestou-se, no entanto, nestas mesmas categorias,
com vários filmes centrados em volta de personagens femininas a arrecadarem
nomeações, o que é, infelizmente, uma raridade, Carol, Room,
Brooklyn,
Ex
Machina e Inside Out. O caso do filme da Pixar é de particular destaque,
sendo que toda a premissa narrativa do filme se desenvolve em torno de uma
exploração metafórica da psique de uma jovem rapariga em crescimento.
Apesar de tudo isso, tenho de dizer que os prováveis
vencedores serão filmes com mínima presença feminina, ou qualquer ilusão de
diversidade. Spotlight e The Big Short parecem destinados a
ganhar estes galardões, e a não ser que nos esperem grandes surpresas na
cerimónia de dia 28, tenho sérias dúvidas que outros filmes consigam reunir
votos suficientes para sequer ameaçarem o domínio destas obras.
RANKING DOS NOMEADOS
(Argumento Adaptado):
5. Charles Randolph e Adam McKay por The Big Short baseado no
livro de Michael Lewis
Da minha crítica de A Queda de Wall Street:
“The Big Short apresenta-se como uma exposição da catástrofe que
foi o despoletar da crise económica em 2008, oferecendo às suas audiências um
lugar de primeira fila para o cataclismo ao acompanhar alguns dos poucos homens
que se aperceberam do desastre iminente e conseguiram lucrar a partir do
cataclismo financeiro. O filme também se apresenta como uma explicação
acessível e divertida, ao estilo de programas como o Daily Show ou o Last Week
Tonight, da complicada realidade dos jogos monetários de Wall Street, sendo
que, infelizmente, é impossível olhar o produto final sem observar ora uma
colossal condescendência dos cineastas para com a sua audiência ora uma
estranha e desconfortável atitude de leviano desprezo para com a importância e
seriedade das suas informações que tanto tenta transmitir a partir de joviais e
desnecessários truques cinematográficos.”
Eu não acho que o humor seja uma forma necessariamente
errada para se abordar temas tão sérios como a crise económica que em 2008
arrasou todo o mundo, mas The Big Short não é esse filme. Eu,
pessoalmente tenho pouca paciência para os trejeitos e devaneios humorísticos
da bro culture da atualidade, o que
me diferencia imenso de grande parte da audiência deste filme assim como dos
seus autores, e que faz de mim alguém que dificilmente conseguiria aceitar esta
abordagem com algo mais que simples desdém. Com tudo isto dito, mesmo ignorando
os meus gostos pessoais, o argumento deste filme é um verdadeiro pesadelo de
desleixada estruturação dramática, vazias caracterizações, ritmos ineficientes
e uma catastrófica dependência de declarativos e constantes momentos de
exposição.
Se há um aspeto da adaptação de literatura para cinema que
sempre me irritou, é o uso de voz-off como meio para transmitir monólogos
interiores que narram um livro. Sempre me pareceu um mecanismo imensamente
simplista e cronicamente anti cinemático. Por vezes resulta brilhantemente, mas
essas ocasiões são um elefante branco no panorama do cinema, e, infelizmente, o
texto de Room não é essa tão preciosa raridade. Eu percebo o modo como
Donoghue recorre à voz interior de Jack para melhor dramatizar a sua viagem
emocional, mas isso prende o filme às suas raízes literárias de um modo
imensamente distrativo e rouba ao fabuloso protagonista a oportunidade de
construir a sua prestação somente a partir das ações da narrativa. O modo como
o argumento usa este recurso dramático de modo intermitente e fortemente
errático ainda piora a situação, o que, combinado com uma infeliz tendência a
cair em desnecessários sentimentalismos, poderia facilmente resultar em
desastre. Felizmente, Donoghue tem a inteligência e a ligação ao material que
lhe permitem conceber uma delicada teia de complexas caracterizações que tornam
Room
num arrebatador retrato humano. O modo como Donoghue nunca foge aos aspetos
mais abrasivos dos sobreviventes que protagonizam a narrativa é outro grande ponto
forte, assim como o é a grande consistência e delicadeza com que a autora
concebe a personagem de Jack e sua perceção do mundo ao longo do filme, uma
evolução que é tão expressa a um nível emocional como a um nível linguístico.
3. Drew Goddard por The Martian baseado no romance de Andy Weir
Tal como muito mencionei na minha crítica de Perdido
em Marte, um dos melhores aspetos desta nova obra de Ridley Scott é o
seu tom leve e cómico, uma imensa raridade na filmografia do realizador
britânico e no panorama do cinema que conta histórias de sobrevivência. Nunca
li a obra de Andy Weir, ou qualquer porção dela, mas tenho de admirar a
sagacidade humorística de Drew Goddard, ao conceber a existência de Mark
Watney, o protagonista do filme, como uma constante tentativa de encher um
asfixiante silêncio, sendo que o filme quase parece dever algum do seu registo
textual à atual cultura de youtubers e vloggers. Mais ainda que essa leveza
tenho de destacar o equilíbrio estrutural que Goddard estabelece entre a figura
isolada de Watney e toda equipa de numerosos indivíduos encarregues de planear
e concretizar o seu difícil resgate. Quando fui ver este filme aos cinemas,
pouco sabia sobre a obra e esperava ir ser testemunha de mais uma narrativa de
um herói individual a triunfar devido à sua sobre-humana ingenuidade, pelo que
fiquei completamente deliciado pelo modo como Goddard se recusa a cair em tais
simplismos arquétipos e escreve uma gloriosa coleção de interessantes
personagens a trabalhar em equipa para chegar ao seu objetivo. Raramente o
cinema americano permite que o heroísmo seja um ato coletivo e não um triunfo
individual, pelo que, nem que for só por isso, eu tenho de mostrar admiração e
apreço pelos esforços de Drew Goddard em Perdido em Marte.
2. Nick Hornby por Brooklyn baseado no romance de Colm
Tóibin
Da minha crítica de Brooklyn:
“Uma das mais significantes fragilidades do filme é, aliás, o
modo como nunca permite que as decisões da sua protagonista sejam expressas de
modo orgânico, estando sempre a forçar mecanismos narrativos para avançar mais
facilmente o enredo. Não sei se isso é uma consequência do livro de Colm Tóibin,
ou se é um fruto da sua adaptação, mas o facto é que este elemento se revela
como um dos maiores problemas de Brooklyn enquanto filme.”
Essa insistência em roubar a personagem de Eilis de agência e
controle sobre o desenrolar da sua narrativa pessoal é certamente o maior
problema presente no texto de Brooklyn. No entanto, por muito prejudicial que
seja essa fragilidade e por muito que ela acabe por reduzir grandes partes da
narrativa a etéreas passagens de tempo sem consequência, Brooklyn consegue elevar-se
acima desses problemas. O texto de Nick Hornby pode ser um pouco simplista no
seu tratamento dramático de Eilis, sua protagonista, mas de resto, todas as
personagens do filme são concretizadas textualmente com uma delicada humanidade
que pinta o filme com o que parece ser uma das mais belas paisagens humanas do
cinema de 2015. Esse pano de fundo humano é a melhor parte do texto de Hornby,
mas o autor é igualmente exímio na construção do apaixonante e delicioso romance
entre Eilis e Tony, como que emulando semelhantes narrativas do cinema de
outros tempos, sem criar uma mimese distrativa. É fascinante observar como
Hirby concebe neste romance uma melancolia profunda, mas não por isso
sufocante, um romance fogoso mas não agressivo, e uma história dramática que no
entanto nunca é desafiante. Nem tudo resulta neste argumento, mas o que resulta
consegue rivalizar os mais textualmente sofisticados filmes de 2015.
1. Phyllis Nagy por Carol
baseado no romance de Patricia Highsmith
Um dos aspetos mais fascinantes e geniais de
Carol é a magistralmente delicada adaptação que Phyllis Nagy fez da
obra original de Patricia Highsmith. No romance, originalmente publicado com o
título The Price of Salt, toda a
narrativa romântica é experienciada através da insular perspetiva de Therese
Belivet, sendo que o seu crescimento emocional, a sua autodescoberta se tornam
as principais forças narrativas. Por consequência, a figura de Carol existe
como um objeto de desejo, como uma imagem indefinida de luxo, erotismo e
atração, cuja psique e vida nunca são mais que um esboço criado pela perspetiva
subjetiva de Therese. No filme, o texto de Nagy tem a espetacular habilidade de
alterar radicalmente esta perspetiva, expandindo e humanizando a personagem
titular, ao mesmo tempo que faz do olhar de Therese um componente essencial do
romance. Ao tornar Therese numa fotógrafa, e não na cenógrafa que ela é no
romance, Nagy não só pegou na narrativa subjetiva do livro e a telegrafou sem
cair em usuais clichés como o uso de voz-off, como conferiu ao filme um
formidável ponto de partida para toda a sua construção tonal e visual. Mais
ainda que isso, Nagy prova-se aqui como uma absoluta mestra da economia verbal
e sagacidade humanista, construindo um argumento em que cada palavra proferida
esconde uma multitude de realidades e camadas de sentido e onde as delicadas
especificidades do ato de se apaixonar por alguém é retratado com uma
visceralidade curiosamente elegante e subtil.
PREVISÕES E DESEJOS:
Quem vai ganhar: The Big Short
Quem eu quero que ganhe: Carol
Quem merece ganhar: Carol
5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
- Andrew Haigh por 45 Years baseado no conto de David Constantine
- Spike Lee e Kevin Willmott por Chi-Raq baseado na peça Lisistrata de Aristófanes
- Ryan Coogler e Aaron Covington por Creed baseado nas personagens criadas por Sylvester Stallone
- Marielle Heller por The Diary of a Teenage Girl baseado no livro de Phoebe Gloeckner
- Jacob Koskoff, Michael Lesslie e Todd Louiso por Macbeth baseado na peça de William Shakespeare
*Esta seleção
pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade
de 2015 enquanto ano cinematográfico.
RANKING DOS NOMEADOS
(Argumento Original):
5. Andrea Berloff, Jonathan Herman, S.
Leigh Savidge e Alan Wenkus por Straight Outta Compton
Eu já calculava que Straight Outta Compton fosse receber
uma nomeação, mas tenho de confessar que nunca me passou pela cabeça que essa
nomeação se materializasse nesta categoria. De todos os elementos do filme o
texto será certamente o seu pior, sendo que uma nomeação para o espetacular
elenco, para o expressivo trabalho de som, ou mesmo para a energética e
dramática direção fariam, para mim, muito mais sentido. À superfície,
Straight Outta Compton é uma narrativa biográfica fortemente cimentada
numa grande fúria política, sendo que o material verídico deveria sugerir uma
certa fogosidade e ousadia que infelizmente nunca se mostram. Eu diria até que Straight
Outta Compton é uma das obras mais confortáveis e perniciosamente
seguras a sair recentemente dos estúdios de Hollywood. As personagens que são o
sujeito do filme tiveram uma vida cheia de dramáticos acontecimentos, cheia de
uma fascinante complexidade, e até de mostras de grandes crueldades, como no
seu tratamento de várias companheiras femininas que nunca são mencionadas no
filme. Este filme devia pulsar com a irreverência da música cuja criação se
propõe a retratar, mas acaba somente por se reduzir a uma versão limpa e polida
da história. Todo este material tinha imenso potencial e merecia um tratamento
textual muito melhor. Enfim, é isto que acontece quando celebridades se
envolvem na criação das suas próprias biografias. Talvez daqui a umas décadas
tenhamos outra versão desta história que se deixe levar pela complicada
existência destes artistas, pela volátil qualidade das suas vidas e pela enfurecida
indignação social e política que arde nas letras das suas canções, ao invés
deste filme amarrado a um texto que nunca o permite elevar-se a essa grandeza.
4. Matt Charman, Ethan Coe e Joel Coen
por Bridge of Spies
Da minha crítica de A Ponte dos Espiões:
“(…)O texto dos Coen é de particular relevância, conferindo
uma certa acidez textual que vai sempre complicando mesmo os impulsos mais
adocicados da mise-en-scène de Spielberg(…)”
Apesar do filme estar construído numa base de doce e
reconfortante nostalgia, A Ponte dos Espiões é uma sublime
montra de como convencionalismo pode ser usado para desafiar as suas audiências.
Por exemplo, ao criar no centro do seu filme uma personagem tão cimentada na
retidão moral e ética que veio a caracterizar um certo tipo de identidade
nacional americana, os autores do argumento deste thriller político,
construíram um perfeito veículo para uma examinação das hipocrisias que
dominaram e ainda dominam o pensamento nacional quando se fala da Guerra Fria.
Ao contrário de Lincoln, A Ponte dos Espiões não é uma obra
sobre as maquinações políticas de um momento fulcral da História Americana, mas
sim uma reflexão sobre os valores humanos e sociais dessa mesma época.
Estruturado à volta de longas cenas de diálogo, ridículos teatros de
subterfúgios e negociações escondidas, e ocasionais momentos de sufocante
tensão, o texto de A Ponte dos Espiões maneja um delicado equilíbrio tonal, onde o
humor está sempre disponível para conceder alguma leveza aos procedimentos
narrativos, sem, no entanto, os roubar da sua importância. É convencional,
certamente, mas elegante na sua construção e com poucas fragilidades, sendo que
uma delas é a sua insatisfatória dependência de catchphrases como meios de caracterização.
3. Alex Garland por Ex Machina
Da minha crítica de Ex Machina:
“É bastante sentido nas repetidas conversas entre Caleb e
Ava que o realizador pretendia algo profundo e inequivocamente fascinante e que
capturasse a atenção da audiência, mas o uso de fórmulas e arquétipos deste
tipo de cinemas prova-se tanto uma bênção como um problema difícil de resolver.
Há algo de cansativamente previsível no filme, que ao mesmo tempo lhe confere
um sentido de tragédia inevitável.”
Apesar destas fragilidades, a que se acrescentam o modo como
Ex
Machina aborda os seus temas a partir de narrativas e teorias já
exploradas muito mais formidavelmente noutros filmes, penso que devemos dar ao
argumento de Alex Garland o seu devido valor. Hoje em dia a ficção científica
como género cinematográfico parece estar a perder uma das suas facetas mais
fascinantes, a de permitir teorização de conceitos abstratos dificilmente explorados
noutros filmes. Estamos longe dos anos áureos da década de 70, mas, apesar
disso, Alex Garland teve a bravura de pegar no que poderia ser uma básica e
desinteressante história de horror num futuro não muito distante, e conceber a
partir dessa base uma enfurecida, mas clínica, dissecação de conceitos tão
usualmente evitados como a sexualidade, a identidade e a natureza do que é ser
humano, onde as convenções de género e atração poderão ser nada mais que um
constructo artificial, recusando-se a reconfortar a sua audiência, preferindo
espicaçá-la. Não é uma obra perfeita, mas é um filme que muita discussão gerou,
muito pensamento e teoria germinou e por isso merece a minha apreciação e
merece um certo módico de celebração.
2. Josh Singer e Tom McCarthy por Spotlight
Da minha crítica de Spotlight:
“Escrito por Tom McCarthy e Josh Singer, o argumento de Spotlight
é uma magistral criação de equilíbrio tonal e de sublime balanço humano,
emocional e factual. Nunca tendo sombra de dúvida da estarem no lado certo da
justiça em relação a esta narrativa, os dois autores tecem uma teia de
brilhantes personagens baseadas em contrapartes reais, e vão oferecendo
pequenas doses de informação pessoal sem caírem em demasiada exposição. As
cenas de exposição são, aliás, nunca oferecidas como caracterização declarada
mas como veículos de criarem um retrato de enganadora modéstia sobre uma
comunidade, uma cidade apoiada na sua identidade religiosa. Para além do mais,
o modo como as relações de poder económico e moral vão sendo delicadamente
reveladas, incluindo algumas verdades abrasivas sobre a realidade longe de ser
perfeita da instituição do Boston Globe, dá um toque de bem-vinda complexidade
a um filme que ameaça sempre tornar-se uma elegia inapropriadamente celebrativa
dos seus heróis centrais.”
Tenho pouco a acrescentar a estas minhas palavras. O
Caso Spotlight está longe de ser um exemplo de inovação estrutural ou
textual, mas é uma obra de elegante eficiência cinematográfica. Um triunfo que
não anuncia a sua grandeza com a vistosa pomposidade que costume manifestar-se
neste género de cinema de prestígio, Spotlight seria um excelente
vencedor nesta categoria.
1. Pete Docter, Meg
LeFauve, Josh Cooley e Ronnie Del Carmen por Inside Out
Da minha crítica de Divertida-mente:
“Parte dessa glória narrativa devém da clara influência de
Pete Docter, o mais emocionalmente maturo e aventuroso de todos os realizadores
da Pixar, que ajuda este filme a se afirmar como um dos seus mais ousados a um
nível narrativo e conceptual. Não que tudo isto seja um simples exercício
intelectual, pois Inside Out contém em si uma avassaladora carga emocional. A
final resolução, uma surpreendente celebração e defesa da necessidade de
sentimentos negativas e complexidade emocional como parte do processo de
crescimento, é uma das mais merecidamente lacrimosas na recente história do
cinema de animação. E isto tudo, sem sequer mencionar Bing Bong, uma potente
surpresa que eu não quero estragar a quem não tenha visto esta formidável
explosão de criatividade.”
O argumento de Inside Out é um milagre de ambição
e inteligência tonal. Que outro estúdio de animação americano, que não a Pixar
teria a coragem de desenvolver um filme em volta de uma narrativa que é,
essencialmente, uma longa metáfora, em que as protagonistas são manifestações corporais
de conceitos emocionais abstratos? Que o filme funciona é um milagre ainda
maior que a sua ambição e o seu triunfo é uma das melhores glórias do passado
ano cinematográfico. Melhor ainda, o argumento de Inside Out, apesar de
simplificar um pouco a psique humana na sua rígida estratificação e construção
de um mundo metafórico, é incrivelmente recheado de humor, sendo uma das mais
hilariantes comédias do ano. Inside Out concede à sua audiência
tantas lágrimas como risos, como momentos de melancolia e reflexão sobre
verdades e realidades poucas vezes examinadas em cinema deste tipo. É uma
maravilha!
PREVISÕES E DESEJOS:
Quem vai ganhar: Spotlight
Quem eu quero que ganhe: Ex Machina
Quem merece ganhar: Inside Out
5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:
- Marc Basch e Brett Haley por I’ll See You in My Dreams
- Anna Boden, Ryan Fleck por Mississippi Grind
- Deniz Gamze Ergüven e Alice Winocour por Mustang
- Taylor Sheridan por Sicario
- Sean Baker e Chris Bergoch por Tangerine
*Esta seleção
pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade
de 2015 enquanto ano cinematográfico
Sem comentários:
Enviar um comentário