quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR CENOGRAFIA




Independentemente das minhas opiniões sobre o seu trabalho nestes filmes em particular, esta categoria junta-se a Melhor Fotografia como tendo um dos mais ilustres e talentosos grupos de nomeados nesta presente edição dos Óscares.

Adam Stockhausen é um genial cenógrafo em meteórica ascensão, tendo arrecadado um Óscar o ano passado por Grand Budapest Hotel. O seu trabalho em Bridge of Spies é caracterizado por cuidadas e vistosas reconstruções de época sendo que não é de admirar a sua presença nestes nomeados.

De modo semelhante, Eve Stewart assegurou a sua quarta nomeação a este galardão com mais uma construção de cinema de época, requintadamente pontuado com a exuberante elegância dos ambientes artísticos e sofisticados da França e Dinamarca da década de 20 do século passado. A sua relação profissional com o realizador Tom Hooper tem sido imensamente benéfica para Stewart que tem sido consistentemente um dos mais fortes aspetos dos filmes deste realizador, e tem sempre conseguido arrecadar uma indicação para o Óscar. Infelizmente, ao contrário de Stockhausen, Stewart ainda não foi completamente celebrada pela Academia.

Igualmente desprovido de um Óscar está Jack Fisk, um homem que se poderia considerar uma verdadeira lenda da cenografia para cinema. Fisk ganhou fama e respeito pelas suas gloriosas colaborações com autores como Brian de Palma, David Lynch, Paul Thomas Anderson e Terrence Malick, mas será certo afirmar que foi o seu trabalho com este último nome que garantiu a sua participação em The Revenant. Apesar de ser um filme de época, a mais recente obra de Alejandro González Iñarritu é caracterizada por uma constante presença do mundo natural de tal modo que a indicação de Fisk é uma agradável surpresa, assim como um bom exemplo de como não é apenas o trabalho em cuidados interiores que representa boa cenografia.

Igualmente focado em exteriores é Mad Max: Fury Road, o filme pelo qual o australiano Colin Gibson se encontra a desfrutar a sua primeira indicação aos Óscares. Tal como já tinha anteriormente referido, a celebração deste tipo de trabalho focado em veículos e grotescas visões de ficção-científica está longe de ser algo usual nestes prémios da Academia, mas é impossível ignorar a genialidade deste trabalho.

Por fim, Arthur Max é aqui nomeado pela terceira vez, de novo por um trabalho com Ridley Scott, o seu realizador de eleição. Será que é desta que Max irá arrecadar um Óscar pelo seu trabalho com o realizador britânico? A natureza quase contemporânea de The Martian apontaria normalmente para um fracasso certo, mas com um ano tão imprevisível como este, nunca se sabe se Max não acabará como o grande vencedor desta categoria.




RANKING DOS NOMEADOS:


5. Arthur Max e Celia Bobak por The Martian





Baseando-se em designs e projetos experimentais da NASA, Arthur Max criou em The Martian uma hiper-realista visão do que poderia ser, tendo em conta o estado atual da tecnologia espacial, uma missão a Marte. Essa procura de realismo informou todos os detalhes da cenografia deste filme de Ridley Scott, com as próprias escolhas de cores a serem diretamente influenciadas pelos materiais usados pela NASA atualmente. Apesar dos figurinos do filme terem investidos num incomum uso de laranjas e azuis vivos, os espaços da narrativa são caracterizados pelo mesmo branco clínico que domina tantos outros filmes semelhantes. Aliás, essa é a principal fragilidade no trabalho de Max, que, na sua pesquisa e construção verossímil, acabou por cair no erro da repetição estética. Sinceramente, é difícil distinguir The Martian de uma infindável quantidade de outras semelhantes narrativas. Aparte desse problema, o filme é uma maravilhosa montra para o trabalho do cenógrafo, com a base marciana a demonstrar os efeitos do ambiente e da improvisada sobrevivência do protagonista, assim como momentos de grandiosidade espacial com a nave que inclui uma interessante porção rotativa.




4. Eve Stewart e Michael Standish por The Danish Girl





Da catástrofe cinematográfica que é o mais recente filme de Tom Hooper, possivelmente o único elemento técnico que consegue escapar à sufocante mediocridade de todo o projeto é a cenografia edificada pela veterana Eve Stewart. Nas criações desta cenógrafa sempre existe uma formidável utilização de texturas, de tal modo que os seus mundos primam por uma tatilidade quase sensível a partir das imagens que conjuram, e The Danish Girl, pelo menos a sua primeira metade é um perfeito exemplo disso mesmo. A acrescentar ao seu fabuloso domínio de materiais e texturas vem-se a acrescentar uma magnífica utilização de uma cuidada paleta cromática inspirada nas pinturas do casal no centro de toda a narrativa. Nos ambientes dinamarqueses existe uma sedutora simplicidade, mesclada com toques de jubilante exuberância como as pinturas e esboços de Gerda ou uma infinidade de tutus suspensos num teatro. Quando o filme transporta a sua narrativa para a Paris dos anos 20, essa mesma simplicidade é substituída por uma explosiva orgia de art déco e arte nova, que, apesar de nunca ser particularmente convincente como um ambiente caracteristicamente parisiense, é uma fabulosa expressão de um mundo distante da frieza dinamarquesa, onde o hedonismo luxuoso é a ordem do dia. No final, o trabalho de Stewart é uma pérola reluzente num lamaçal de mediocridade, mas isso não a impede de ser uma excelente candidata ao Óscar, mesmo considerando que este é provavelmente um dos seus menos impressionantes trabalhos nos últimos anos.




3. Adam Stockhausen, Rena DeAngelo e Bernhard Henrich por Bridge of Spies





Apesar da construção do Muro de Berlim e a concretização das delapidadas ruas da parte Leste de Berlim aquando do seu domínio soviético serem as mais vistosas e memoráveis contribuições de Adam Stockhausen ao mais recente filme de Steven Spielberg, eu diria que esses mesmos aspetos representam a parte mais fraca ou menos louvável do seu trabalho em Bridge of Spies. Enquanto os exteriores concebidos por este galardoado cenógrafo são impressionantes, se bem que notoriamente ajudados por efeitos visuais, a verdadeira glória do seu trabalho encontra-se nos interiores. Desde uma visão ora acolhedora, ora fria e inóspita, dos conservadores anos 50 nos EUA aos ambientes alemães, Stockhausen constrói um mundo credível mas, ao mesmo tempo, pontuado com um toque de dramatismo que é quase como um piscar de olho à audiência, tal como os convencionalismos classicistas que dominam os outros aspetos técnicos do filme, Uso de mensagens nas paredes de uma prisão, por exemplo, são um toque de humor gritado, mas não por isso menos glorioso. Sinceramente, apenas pela sua orquestração de uma panóplia de diferentes ambientes na Berlim dividida e em que cada escritório se demonstra como uma parte de um puzzle de estratificações de poderes em conflito, Stockhausen justificaria a sua presença nesta lista.




2. Jack Fisk e Hamish Purdy por The Revenant





É verdade que quando pensamos em The Revenant, cenografia é a última coisa que nos deverá passar pela cabeça, mas, para ser honesto, este aspeto, juntamente com o seu som, são possivelmente as únicas categorias em que eu consideraria colocar o filme de Alejandro González Iñarritu. Apesar do filme ser dominado pela imponente paisagem natural, isso não implica que o lendário cenógrafo Jack Fisk não tenha tido nas suas mãos um impressionante trabalho. Desde a criação do acampamento atacado pelas forças nativas, a fugazes visões de montanhas de ossadas e cabanas em chamas, passando por um imponente forte e uma impressionante ruína, o mundo físico e espacial de The Revenant é edificado de tal maneira que quase conseguimos sentir o odor da madeira húmida ou das peles gélidas. A atenção ao detalhe e à veracidade histórica são um elemento de louvar em The Revenant, e a cenografia não desaponta, sendo que o modo como as construções humanas que vamos observando demonstram a sua fragilidade face à imparável investida da natureza é possivelmente a melhor ideia que todo o filme oferece. Na imagem de uma igreja, outrora majestosa mas agora reduzida a um aglomerado de ruínas esquecidas pela civilização, Fisk consegue sugerir um discurso artístico infinitamente mais complexo que qualquer pretensiosismo conjurado pelo realizador desta obra tão adorada pelos Óscares.




1. Colin Gibson e Lisa Thompson por Mad Max: Fury Road





 Desde os interiores bizarros do reino rochoso de Imortan Joe aos pesadelos sobre rodas em que o filme situa a grande maioria da sua narrativa, Mad Max: Fury Road apresenta aqueles que são, sem sombra de dúvida os mais espetaculares ambientes cénicos vistos no cinema de 2015. Há um fabuloso barroquismo na visão pós-apocalíptica conjurada por Colin Gibson e Lisa Thompson, com grotescas decorações a cobrirem todas as superfícies, sem, no entanto, mostrarem qualquer noção contemporânea de elegância ou harmonia visual. O feito técnico de criarem os veículos que dominam o filme já seria suficiente para este par de cenógrafo e decoradora arrecadarem um merecido Óscar, mas eles não se ficam por aí, construindo todos os pormenores do mundo edificado por George Miller com uma precisão monumental, em que a ferrugem é uma parte essencial da mise-en-scène, em que o calor do metal aquecido pelo sol do deserto é quase sentido pela audiência, em que as texturas de um interior são tão vividas que conseguimos imaginar as nossas mãos a sentirem as suas imperfeições. Este é um trabalho de puro génio que pela sua opulência talvez consiga mesmo capturar a atenção da Academia e vencer um óscar que não pertence a mais nenhum dos nomeados aqui presentes, por muito admirável que seja o seu trabalho.




PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Colin Gibson e Lisa Thompson

Quem eu quero que ganhe: Colin Gibson e Lisa Thompson

Quem merece ganhar: Colin Gibson e Lisa Thompson




5 escolhas alternativas que a Academia ignorou*:

  • Judy Becker e Heather Loeffler por Carol
  • Fiona Crombie e Alice Felton por Macbeth
  • Alex DiGerlando, Kl Kenzie e Cynthia Anne Slagter por Chi-Raq
  • Thomas E. Sanders, Jeffrey A. Melvin e Shane Vieau por Crimson Peak



*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


Sem comentários:

Enviar um comentário