domingo, 14 de fevereiro de 2016

Oscars 2015/16, MELHOR BANDA-SONORA ORIGINAL



Juntamente com a categoria de Melhor Fotografia, esta é provavelmente a categoria que mais reúne incomparáveis filmografias. Apenas Jóhann Jóhannson se destaca como uma ovelha negra, mas, tendo em conta a qualidade recente do seu trabalho, daqui uns anos talvez o seu nome não destoe tanto neste grupo de génios musicais. O seu trabalho, nesta coleção de bandas-sonoras, é certamente o menos melodioso e, consequentemente, a mais atípica escolha da Academia, que, na minha opinião, devia dar muito mais valor a bandas-sonoras que tomam uma abordagem diferente da usual beleza de uma orquestra classicista que tanto parece dominar esta categoria todos os anos.

A competir com Jóhannson pelo Óscar de Melhor Banda-sonora Original estão duas verdadeiras lendas vivas do mundo da música de cinema, John Williams e Ennio Morricone. Neste momento, Williams já tem mais de 40 nomeações, tendo já arrecadado 5 Óscares pelo que eu espero que ele não ganhe. Afinal, é muito mais interessante quando a Academia honra vozes diferentes e não sempre a mesma pessoa. Morricone, por exemplo, apesar do seu estatuto quase divino na história do cinema, nunca ganhou um Óscar, pelo que eu duvido que a Academia consiga resistir à oportunidade de honrar este monumento vivo dos epítetos gloriosos a que pode chegar a música composta para filmes.

Outro compositor que nunca recebeu um Óscar, apesar da aclamação da crítica é Thomas Newman, Este americano já conta com 13 nomeações e já seria hora da Academia finalmente celebrar o seu trabalho, que inclui filmes como American Beauty, Wall-E e Skyfall, três filmes pelos quais Newman recebeu nomeações.

Por último temos Carter Burwell, um dos melhores compositores do cinema americano contemporâneo que, apesar de uma constante genialidade no seu trabalho, nunca havia sido nomeado anteriormente. Somente o seu trabalho com os irmãos Coen já lhe devia ter garantido uma nomeação, mas foi preciso a beleza inegável de Carol para a Academia finalmente se aperceber da magnificência musical deste compositor.




RANKING DOS NOMEADOS:



5. Thomas Newman por Bridge of Spies


Thomas Newman é um compositor que eu há muito admiro, e tenho de admitir que penso ser um dos melhores compositores a trabalhar na atualidade que ainda não arrecadou um Óscar pelo seu trabalho. Apesar de toda esta admiração, a banda-sonora que Newman concebeu para A Ponte dos Espiões está bastante longe de ser a sua melhor, ou mesmo de ser uma das suas 20 melhores. Tal como muitos compositores de música para cinema, Thomas Newman tem uma tendência a repetir-se bastante, ultrapassando o que seria uma marca estilística e chegando mesmo ao que se assemelha a um copy paste de filme para filme. Felizmente, em A Ponte dos Espiões Newman não faz isso, apesar de muitas das suas composições serem marcadamente da sua autoria. Ao invés disso, Newman criou uma das suas mais anónimas bandas-sonoras, oscilando entre a leveza sonora do seu usual trabalho e uma musicalidade tipicamente americana que parece quase uma tentativa falhada de copiar John Williams, o usual compositor de Steven Spielberg. Pior do que isso é mesmo os momentos em que, musicalmente, o filme cai num jogo de suspense e tensão sonora que é completamente genérico, sem ter a gloriosa celebração de classicismos do cinema de Hollywood convencional que tanto caracterizam os outros aspetos deste filme. A banda-sonora de A Ponte dos Espiões está longe de ser um mau trabalho, mas também está muito distante de ser extraordinário e os Óscares, supostamente, devem honrar excelência e não simples eficiência.




4. John Williams por Star Wars: The Force Awakens


Um dos mais significativos aspetos da estrutura narrativa de Star Wars: O Despertar da Força é a sua reinterpretação de momentos e enredos originados na trilogia original. Seguindo esta linha de pensamento, temos o trabalho de John Williams, que concebeu uma banda-sonora maioritariamente caracterizada pela reciclagem e adaptação dos temas mais famosos da saga em novas versões e novas composições. Para um fã do universo musical de Star Wars, como eu, esta celebração das glórias passadas em forma musical é deliciosa, especialmente quando os temas são fortemente reinterpretados e moldados em algo novo, como a aparição da melodia da marcha imperial de O Império Contra-Ataca como marca sonora da chegada e introdução de Kylo Ren. Apesar disto, e da gloriosa robustez orquestral que Williams traz a esta banda-sonora com o seu usual classicismo, a falta de quaisquer temas novos, a não ser o delicado “Rey’s Theme”, é uma grande desilusão. Mesmo para as detestáveis prequelas, Williams concebeu novas e memoráveis peças musicais como “Duel of Fates” ou o tema romântico de O Ataque dos Clones, mas infelizmente nada nesta banda-sonora chega aos píncaros dos filmes anteriores. De novo, esta banda-sonora é gloriosa e, se alguém não tiver conhecimento da música dos filmes anteriores, será fácil proclamar estas composições como algumas das melhores do ano, só que, infelizmente, eu tenho esse conhecimento e é difícil encarar esta nomeação e esta banda-sonora de modo geral sem desejar que Williams tivesse criado algo mais original e memorável para este sétimo episódio da saga mais famosa da história do cinema.




3. Ennio Morricone por The Hateful Eight


Quem tiver lido a minha crítica do mais recente filme de Quentin Tarantino já deverá conhecer a minha relação muito pouco amistosa com esta obra. No entanto, um dos melhores aspetos de Os Oito Odiados é a sua banda-sonora, concebida por um dos grandes mestres da música em cinema, Ennio Morricone. Esta lenda viva foi certamente escolhida por Tarantino devido ao seu trabalho nos spaghetti westerns das décadas de 60 e 70, filmes em que Morricone criou peças musicais de beleza estonteante e inexoravelmente inesquecíveis. Desafio quem quer que leia este texto a ver os grandes westerns de Sergio Leone sem ficar impressionado com a sua gloriosa música. Enfim, apesar de todas as suas fragilidades enquanto autor, Tarantino sempre mostrou um soberbo gosto musical e em Os Oito Odiados esse gosto volta a marcar presença, resultando numa das melhores bandas-sonoras do ano. Tal como John Williams, também Morricone usa para esta banda-sonora mecanismos e fórmulas que caracterizaram os seus trabalhos passados, mas o compositor italiano teve a sagacidade de não descurar o poder iconográfico do seu trabalho, conferindo a Os Oito Odiados uma potente identidade musical. Desde a épica introdução, que imediatamente estabelece uma atmosfera de classicismo cinematográfico, assim como uma ameaçadora tensão, Morricone demonstra a sua genialidade e apesar do resto do filme ser dominado pelo diálogo, o trabalho desta lenda nunca perde poder ou qualidade.




2. Jóhann Jóhannson por Sicario

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Da minha crítica de Sicario:

“Ainda mais importante e magistral que o visual do filme é o seu estupendo som. A música, da autoria de Jóhann Jóhannsson, funde-se com os efeitos sonoros numa avassaladora atmosfera de constante ameaça. Há algo de horrendamente opressivo na sonoplastia do filme, como se criaturas infernais se fossem movimentando debaixo dos pés da audiência, sendo que por vezes parecemos ouvir a terra mover-se em estrondosa intensidade, como se num submundo invisível o caos fosse tão grande como na realidade em que habitam as figuras humanas do filme, e seus movimentos cataclísmicos se fizessem ouvir por toda a narrativa. Há algo de demoníaco no som, e ao mesmo tempo de impressionantemente expressionista e imersivo, tornando, em algumas sequências, o som de um caótico ambiente urbano numa cacofonia infernal digna de pesadelos aterradores.”

É difícil imaginar que o mesmo compositor responsável pela genérica e melodiosa banda-sonora de A Teoria de Tudo foi o responsável por este genial apocalipse sonoro. Esta é, sem dúvida, uma das mais magistrais composições musicais do cinema de 2015, sendo crucial para toda a atmosfera do filme. Em termos de ousadia e de coragem em cair em momentos de puro caos sonoro, apenas The Childhood of a Leader é comparável. Sinceramente, é uma enorme surpresa que este trabalho tenha recebido uma nomeação, mas é simplesmente espetacular o facto de tal ter acontecido.




1. Carter Burwell por Carol



Tal como todos os aspetos de Carol, a banda-sonora de Carter Burwell é um sonho de perfeição formal e artística tornada realidade. Nas melodiosas composições deste mestre compositor, o romantismo apaixonante de toda a narrativa explode em momentos de gloriosa e luxuriante sonoridade, sendo que, em algumas cenas, a própria música se parece desfragmentar, com as melodias a se decomporem e uma certa qualidade etérea a se manifestar, como a cena em que Carol e Therese passam por um túnel na sua viagem para a opulenta residência da personagem titular. Admito que parte do meu afeto devém do modo como o tema principal do filme me lembra as repetitivas e memoráveis composições de Philip Glass para As Horas de Stephen Daldry, mas é-me impossível resistir à avassaladora beleza conjurada pela música de Burwell. Para além desse tema principal, que abre o filme, e do momento do túnel, outro destaque da banda-sonora é a peça que parece representar a memória de Therese e que se manifesta pela primeira vez aquando de uma viagem de táxi no início do filme. Nessa composição há algo de reticente e nostálgico, quase que uma captura do som do que é uma pessoa se relembrar de felicidades passadas, uma experiência reveladora e tocante, mas invariavelmente melancólica e amarga. Belíssimo!



PREVISÕES E DESEJOS:

Quem vai ganhar: Ennio Morricone

Quem eu quero que ganhe: Jóhann Jóhannson

Quem merece ganhar: Carter Burwell



Cinco escolhas alternativas que a Academia ignorou*:

  • Disasterpiece por It Follows
  • Junkie XL por Mad Max: Fury Road
  • Craig Armstrong por Far from the Madding Crowd
  • Ludwig Göransson por Creed
  • Daniel Pemberton por The Man from U.N.C.L.E.



*Esta seleção pessoal tem por base a lista de elegibilidade da Academia e não a generalidade de 2015 enquanto ano cinematográfico.


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