segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Oscar Hopefuls, Matt Damon em THE MARTIAN




Desde a sua estreia internacional no estival de Toronto que Perdido em Marte tem sido considerado como uma das grandes apostas para os Óscares desta temporada. Depressa este entusiasmo pelo mais recente filme de Ridley Scott, se traduziu numa celebração do trabalho da sua estrela, Matt Damon, que se tem vindo a cimentar como um dos favoritos na corrida ao Óscar de Melhor Ator.

Nos últimos meses, com a entrega de uma série de prémios da crítica e com as nomeações para os SAG, parecia que Matt Damon começava a ser um pouco esquecido em prol da sua competição, mas as nomeações para os Globos de Ouro rapidamente voltaram a atiçar as chamas do apoio a Damon. Junte-se a isto a enorme popularidade do filme e o ator parece estar a cimentar a sua posição na categoria de Melhor Ator nos Óscares, apesar de que um triunfo no Dolby Theatre me continua a parecer um pouco improvável, nomeadamente devido ao género do seu filme. Poucos são os atores que alguma vez conseguiram capturar a atenção da academia em filmes como este, uma aventura espacial, e não me parece que vá ser a sólida, mas limitada performance de Matt Damon a quebrar esta infeliz tradição.




O ator tem o papel principal de The Martian (é ele quem fica perdido em Marte) e tem o dever de ancorar todo o filme que Scott constrói em volta da sua luminosidade de estrela de cinema. O resto do elenco é formidável e muitos dos atores secundários ofuscam Damon em termos de complexidade, mas todos se apoiam no trabalho individual do ator, que em si personifica todos os melhores aspetos do filme, mas também os seus maiores problemas.

Tal como já tinha dito na minha crítica a Perdido em Marte “Damon quase se torna numa paródia da sua persona bonacheirona e cronicamente amigável que tanto caracteriza a sua imagem pública dentro e fora do ecrã, tornando a experiência de observar uma luta pela sobrevivência num ambiente hostil em algo fácil de ver e invariavelmente divertido”. Há que reparar que ainda não mencionei o nome de Mark Watney, a personagem de Damon, e isso deve-se principalmente ao facto de que, quando vemos este filme, não é realmente Watney que queremos observar e acompanhar na sua história de sobrevivência, mas sim Matt Damon, a estrela de cinema de que todos gostam, mesmo que não o considerem um grande artista do seu meio.




O trabalho de Damon apoia-se no seu carisma num registo que lembra os grandes ícones do cinema da era dourada dos estúdios, que tinham filmes desenvolvidos unicamente à volta da sua persona de estrela. O filme torna-se assim numa espécie de showcase para a persona de Damon enquanto um afável e amigável intérprete, mas essa mesma leveza tem tendência a tornar o filme em algo bastante inconsequente.

Apesar de esta ser uma história de sobrevivência humana em condições inimaginavelmente precárias, Damon nunca cai na simples e melodramática indulgência da sua miséria, nunca afastando o filme em demasia do seu tom ligeiramente cómico. Isto é o melhor e, paradoxalmente, o pior aspeto desta performance.




Quase nunca sentimos perigo, ou o peso da adversidade, porque estamos sempre a ser confrontados com Damon, cuja carismática resiliência, se não tivesse o apoio incondicional da narrativa, depressa começaria a parecer algo de assustadoramente desumano. Por consequência, mesmo no final, nunca há dúvidas que Damon se vá salvar, ou mesmo que ele vai ultrapassar o seu sofrimento. Sofrimento este que, infelizmente, nunca parece particularmente percetível ou palpável para a audiência, que assim nunca é colocada em qualquer posição de desconforto ou conflito, acabando também por não sentir o completo triunfo do final.


Se Damon for nomeado, será uma indicação sólida, mas não particularmente gloriosa ou merecida. Não penso que o ator possa ganhar, mas se o fizer será um vencedor bastante diferente do usual, assim como um galardoado cuja performance, apesar de fugir à lista dos piores vencedores (uma lista enorme), nunca chegará ao cânone das grandes interpretações a ganharem o Óscar. E, no final, o Óscar deveria ser um símbolo de absoluta excelência (quase nunca o é), pelo que, apesar de uma agradável prestação cheia de alegre carisma, não penso que Damon mereça tal reconhecimento, especialmente quando este trabalho em The Martian nem entraria numa lista pessoal das 10 melhores interpretações do ator.


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