quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

BIG HERO 6 (2014) de Don Hall & Chris Williams

Ontem publiquei aqui os meus pensamentos sobre Inside Out, o grande favorito para o Óscar de Melhor Filme de Animação deste ano, pelo que achei ter arranjado a oportunidade perfeita para publicar um texto antigo que nunca cheguei a aqui colocar. Big Hero 6 foi o vencedor do Óscar de Melhor Filme de Animação de 2014, e, se tudo correr bem, Inside Out será o seu sucessor.


Big Hero 6


Pode ser uma opinião impopular entre amantes de cinema e pessoas que se achem intelectuais ou coisa semelhante, mas eu não consigo apagar em mim a chama de adoração que sinto pelos estúdios de animação Walt Disney. Pode ser uma adoração principalmente alimentada pela nostalgia e por memórias de um passado ilustre da companhia, mas continuo a achar esse estúdio uma das mais fascinantes fontes de animação ocidental. Dirigido a crianças? Infantil? Focado somente no entretenimento fácil e em interesses económicos? Sim, talvez, mas não é por isso que deixo de antecipar quase todos os anos a nova obra dessa dita fábrica de sonhos.

Com a aquisição de grande parte do espólio criativo da MARVEL, os estúdios de animação da Disney terão encontrado a obra de onde Big Hero 6 foi adaptado muito livremente. Não li a obra de origem, mas uma simples e rápida procura pelo Google traz imagens que praticamente nada têm de semelhante com o produto final do filme, senão uma leve semelhança de ideias específicas. Ou seja, este filme, melhor do que a maioria do recente trabalho desse estúdio, parece ser um perfeito exemplo do apetite capitalista e voraz por detrás de quase tudo o que sai dos estúdios Disney.

Penso, aliás, ser possível desdobrar muito deste filme e encontrar as inspirações em outros filmes de sucesso, os pedaços retirados de outras obras, de outros estilos, assim como as deliberadas escolhas para tornar esta, uma obra apelativa, comercialmente viável e abrangente do maior número de possíveis espetadores possível. E isso torna o filme numa obra má? Medíocre? Pobre? Para mim, pelo menos, não.


Big Hero 6


O filme desenrola-se à volta de Hiro Hamada, um jovem génio de catorze anos que vive com o seu irmão Tadashi e tia Cass na futurista cidade de San Fransokyo, uma mistura arquitetónica entre San Francisco e Tóquio. Apesar do seu talento para a robótica e inteligência notável, o jovem protagonista parece mais interessado em participar em combates de robots ilegais do que se aplicar nos estudos ou a criar algo com real importância social. Nisto ele contrasta com o seu irmão, um estudante universitário, que, juntamente com um elenco de coloridos colegas, trabalha num laboratório da faculdade num projeto pessoal, Baymax, uma espécie de robot enfermeiro, que se assemelha mais a um marshmallow ou a um boneco insuflável do que a qualquer tipo de mecanismo frio que normalmente é sugerido pela palavra robot.

Tadashi consegue, finalmente, aliciar o seu irmão mais novo a candidatar-se à faculdade onde este mesmo anda, culminando tudo isto numa feira de invenções em que Hiro apresenta os seus minibots, uma criação de infindáveis usos que consiste em minúsculos robots magnéticos que, controlados pela mente do utilizador, criam na sua massa qualquer tipo de forma ou movimento. As possibilidades são infinitas, chamando a atenção, entre outros, de um suspeito industrial, Alistair Krei. Um incêndio acaba por se deflagrar no edifício da feira, acabando com a morte de Tadashi.


Big Hero 6


O filme revela-se então como uma história baseada à volta da perda pessoal de um adolescente imaturo, da sua furiosa procura por vingança e de valores familiares e de amizade que se estendem principalmente à figura impossivelmente adorável de Baymax, cuja relação com o protagonista é, provavelmente, a parte mais facilmente apreciada de todo o filme.

Temas de contrastes entre desenvolvimento tecnológico para o bem da sociedade ou para violência e ganho pessoal são explorados, de melhor ou pior maneira, assim como, principalmente, a noção de família e da construção de uma família a partir da amizade, assim como o tema que assombra todo o filme da perda familiar, não fosse já Hiro um órfão antes de perder o irmão.


Big Hero 6


A história e as temáticas têm os seus momentos altos e baixos ao longo do filme, sendo que os momentos de ação perto do final do filme se revelam um pouco problemáticos para mim, tanto a nível temático como ao nível de desenvolvimento do enredo e das personagens, especialmente a do vilão mascarado do filme, cujo conflito parece apenas querer sublinhar os já explorados temas de vingança e perda expostos na narrativa de Hiro e Tadashi.

Mas, apesar do meu amor pelo desenvolvimento da relação entre os dois irmãos, assim como pelo geral apelo à educação superior feitos principalmente na primeira metade do filme, o que mais apreciei neste, foi, sem dúvida a sua animação. A personagem de Baymax é um particular sucesso, tendo até nos seus movimentos um estudo rigoroso de como criar uma personagem instantaneamente adorada por todos, sendo que todas as suas aparições no filme são puro ouro cinematográfico, e cujo apelo tem de ser forte o suficiente para a audiência conseguir sentir os ímpetos emocionais a que o filme almeja no seu final, apesar desta personagem se tratar simplesmente de um robot, cuja falta de livre arbítrio é constantemente realçada pelo texto do filme.


Big Hero 6


Também o vilão e a sua enorme massa de microbots roubados a Hiro durante o incêndio, são uma miraculosa visão de movimento animado. Assim como há que referir o desenho da cidade que, apesar de um pouco ridícula, nos traz uma divertida visão futurista dessa amálgama entre duas das mais visualmente familiares cidades da contemporaneidade.

Há, sem dúvida quem vá criticar o filme, ou quem vá olhar para ele com a frieza que eu simplesmente não consigo conjurar, e o reduzir a uma obra menor e pueril do panorama de cinema de animação contemporânea, mas, para mim, é uma obra essencial, nem que seja apenas pelas personagens, pela animação, pela relação entre os irmãos, pelo seu desenho geral ou pelo simples facto de este ser, muito provavelmente, o mais diverso elenco na história deste, tradicionalmente conservador, estúdio com apenas um dos membros do elenco principal a ser essa constante personagem masculina e caucasiana.


Big Hero 6

Em resumo, vejam Big Hero 6, mesmo que seja apenas para uma hora e meia de divertimento fácil, que apesar dos seus temas, tenho que dizer, nunca chega aos píncaros de complexidade que os filmes, por exemplo, da Pixar conseguiam atingir há uns anos atrás. (e que voltaram a alcançar em 2015 com Inside Out)


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