Tenho sempre certas preocupações quando
vejo o trabalho de alguém, que se estabeleceu numa área específica do cinema
como atuação ou fotografia, aplicado agora à realização. Não que seja algo que
não ache brilhante e algo a encorajar, mas muitas vezes observamos uma certa
falta de visão nestes profissionais já entrincheirados numa área de
conhecimento específica. Pelo menos, costumamos ver um foco bastante eficaz na
área em que se estabeleceram profissionalmente. Sei que estou a ser bastante
generalista e redutivo e que devo, sem dúvida tentar ter uma mente mais aberta,
mas por um Nicolas Roeg temos uma imensidão de realizadores como Hossein Amini.
Não pretendo dizer
que, na sua futura obra, Amini não vai mostrar um positivo desenvolvimento em
relação ao trabalho que mostra neste seu primeiro filme como realizador, mas
tenho a dizer que não tenho grandes esperanças. Para além disso, tendo admirado
alguns dos trabalhos como argumentista de Hosseini, fiquei bastante chocado com
a frouxidão e letargia desinteressante do argumento deste seu filme.
O argumento de que
tão negativamente falo é uma adaptação de um romance de Patrícia Hightsmith,
uma autora que já teve várias obras adaptadas ao ecrã, sendo as suas mais
famosas manifestações cinematográficas, adaptações de The Talented Mr. Ripley; falo, pois claro, dos sensualmente carnais
The Talented Mr. Ripley (1999) e Plein soleil (1963), e o psicótico Strangers on a Train (1951) de
Hitchcock. Há que dizer que nenhuma dessa carnalidade ou desse perigo se manifestam
neste filme.
O filme mostra-nos a
trama de um casal de americanos, quase exilados devido aos trabalhos ilegais de
Chester MacFarland (Viggo Mortensen, que levou consigo para a Grécia a sua
jovem e friamente bela mulher, Colette (Kirsten Dunst). Enquanto passeiam como
elegantes turistas pelas paisagens históricas de Atenas em meados dos anos 60,
o casal depara-se com outro americano, o inteligente vigarista Rydal (Oscar
Isaac). Numa noite, Chester é confrontado por um homem em sua perseguição e
acaba por ter de o matar, pondo-o a ele e à sua mulher numa situação ainda mais
precária do que aquela em que se encontravam. São por isso forçados a buscar o
auxilio do traiçoeiro Rydal, que os parece ajudar nessa sua fuga da Grécia, a
partir dos seus contactos com quem consegue obter passaportes novos para o
casal de fugitivos.
Durante essa fuga
pela paisagem grega, este trio acaba por entrar em conflito, Colette parece
confiar muito mais em Rydal que o seu marido, e os dois homens parecem entrar
num caminho de mútua destruição. Tragédia acaba por se abater sobre o trio em
fuga e as autoridades acabam por conseguir interferir, precipitando o final
fatídico da trama deste filme.
A minha descrição
poderá ter induzido uma visão de um sofisticado thriller, mas a realidade está
longe de tal coisa. O filme apresenta, sem dúvida, uma certa elegância visual e
sonora. A fotografia do filme, por exemplo, apresenta uma atraente visualização
de uma Grécia turística e de um básico mistério. Este trabalho parece, no
entanto, mais adequado a um anúncio turístico ou a um livro de postais que a um
filme de pretensões de um thriller classicista.
Não que isto negue ao
filme a beleza superficial que nele se manifesta, Basta observarmos os
primeiros momentos do filme em que nos é apresentado o casal no seu centro para
verificarmos a beleza visual do filme. Veja-se o modo como os monumentos gregos
são capturados numa suave e dourada luz e como os figurinos dos atores parecem
todos complementar a imagem geral, apanhando cores do espaço envolvente e
mostrando uma elegância suave e típica dos thrillers de uma Hollywood clássica.
É pena nenhum destes aspetos realmente se mostrarem eficazes a criar tensão ou
uma atmosfera mais carnal que a beleza fria e vazia em que o filme se parece afundar.
Apenas a banda-sonora parece corresponder às intenções dos criadores do filme.
Essa sim, realmente ajuda na criação de uma atmosfera classicista mas eficaz.
Os atores não se
parecem também sair muito bem, sendo que Isaac e Dunst são particulares
desilusões. Ambos já mostraram o seu inegável talento em projetos anteriores,
mas neste filme a bela Kirsten Dunst nunca parece atingir a sensualidade que o
papel parece sugerir e nunca se torna nenhum tipo de presença essencial para o
filme. Quando a sua personagem morre inesperadamente o filme não parece em nada
se alterar por isso, mostrando logo a sua completa falta de necessidade dentro
do filme. Isaac, que ainda o ano passado mostrou o seu charme e carisma, parece
aqui uma presença vazia e nunca parece um igual de Mortensen apesar da
superioridade que o filme parece tentar impor à figura do vigarista de Isaac.
Apenas Mortensen
parece conseguir extrair alguma coisa do papel que lhe foi dado, explorando
neste filme um lado mais negro e perverso do que aquele a que estamos
acostumados a associar ao ator. Consegue ser a figura mais interessante do
filme, pelo que o modo como o filme parece insistir no protagonismo de Isaac se
manifesta como um esforço vazio e ineficaz.
A química e tensão sexual que o filme parece sugerir nunca
realmente se manifesta entre este elenco e nenhum dos vagos esforços de Amini
resultam de modo algum. Falta-lhe tensão e carnalidade. Acrescentamos a esta
deficiência o ritmo lento e lânguido do filme e obtemos um filme que é
irritantemente letárgico e até aborrecido.
A trama do filme é
francamente previsível e bastante reminiscente de outros melhores filmes, o
elenco com a exceção de Mortensen é francamente ineficaz e a realização de
Amini deixa bastante a desejar. Este é o tipo de filme que enche os anais do
cinema de Hollywood dos anos 50 e 60 que já foram esquecidos na sua simples
mediocridade, enquanto outros filmes semelhantes terão perdurado graças ao modo
prodigioso como se desenvolveram. É possível encontrar muito pouco desse
prodígio neste filme que parece sempre almejar ser um thriller sofisticado de
décadas passadas.
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