sexta-feira, 14 de novembro de 2014

THE TWO FACES OF JANUARY (2014) de Hossein Amini


 Tenho sempre certas preocupações quando vejo o trabalho de alguém, que se estabeleceu numa área específica do cinema como atuação ou fotografia, aplicado agora à realização. Não que seja algo que não ache brilhante e algo a encorajar, mas muitas vezes observamos uma certa falta de visão nestes profissionais já entrincheirados numa área de conhecimento específica. Pelo menos, costumamos ver um foco bastante eficaz na área em que se estabeleceram profissionalmente. Sei que estou a ser bastante generalista e redutivo e que devo, sem dúvida tentar ter uma mente mais aberta, mas por um Nicolas Roeg temos uma imensidão de realizadores como Hossein Amini.

 Não pretendo dizer que, na sua futura obra, Amini não vai mostrar um positivo desenvolvimento em relação ao trabalho que mostra neste seu primeiro filme como realizador, mas tenho a dizer que não tenho grandes esperanças. Para além disso, tendo admirado alguns dos trabalhos como argumentista de Hosseini, fiquei bastante chocado com a frouxidão e letargia desinteressante do argumento deste seu filme.

 O argumento de que tão negativamente falo é uma adaptação de um romance de Patrícia Hightsmith, uma autora que já teve várias obras adaptadas ao ecrã, sendo as suas mais famosas manifestações cinematográficas, adaptações de The Talented Mr. Ripley; falo, pois claro, dos sensualmente carnais The Talented Mr. Ripley (1999) e Plein soleil (1963), e o psicótico Strangers on a Train (1951) de Hitchcock. Há que dizer que nenhuma dessa carnalidade ou desse perigo se manifestam neste filme.

 O filme mostra-nos a trama de um casal de americanos, quase exilados devido aos trabalhos ilegais de Chester MacFarland (Viggo Mortensen, que levou consigo para a Grécia a sua jovem e friamente bela mulher, Colette (Kirsten Dunst). Enquanto passeiam como elegantes turistas pelas paisagens históricas de Atenas em meados dos anos 60, o casal depara-se com outro americano, o inteligente vigarista Rydal (Oscar Isaac). Numa noite, Chester é confrontado por um homem em sua perseguição e acaba por ter de o matar, pondo-o a ele e à sua mulher numa situação ainda mais precária do que aquela em que se encontravam. São por isso forçados a buscar o auxilio do traiçoeiro Rydal, que os parece ajudar nessa sua fuga da Grécia, a partir dos seus contactos com quem consegue obter passaportes novos para o casal de fugitivos.

 Durante essa fuga pela paisagem grega, este trio acaba por entrar em conflito, Colette parece confiar muito mais em Rydal que o seu marido, e os dois homens parecem entrar num caminho de mútua destruição. Tragédia acaba por se abater sobre o trio em fuga e as autoridades acabam por conseguir interferir, precipitando o final fatídico da trama deste filme.

 A minha descrição poderá ter induzido uma visão de um sofisticado thriller, mas a realidade está longe de tal coisa. O filme apresenta, sem dúvida, uma certa elegância visual e sonora. A fotografia do filme, por exemplo, apresenta uma atraente visualização de uma Grécia turística e de um básico mistério. Este trabalho parece, no entanto, mais adequado a um anúncio turístico ou a um livro de postais que a um filme de pretensões de um thriller classicista.

 Não que isto negue ao filme a beleza superficial que nele se manifesta, Basta observarmos os primeiros momentos do filme em que nos é apresentado o casal no seu centro para verificarmos a beleza visual do filme. Veja-se o modo como os monumentos gregos são capturados numa suave e dourada luz e como os figurinos dos atores parecem todos complementar a imagem geral, apanhando cores do espaço envolvente e mostrando uma elegância suave e típica dos thrillers de uma Hollywood clássica. É pena nenhum destes aspetos realmente se mostrarem eficazes a criar tensão ou uma atmosfera mais carnal que a beleza fria e vazia em que o filme se parece afundar. Apenas a banda-sonora parece corresponder às intenções dos criadores do filme. Essa sim, realmente ajuda na criação de uma atmosfera classicista mas eficaz.

 Os atores não se parecem também sair muito bem, sendo que Isaac e Dunst são particulares desilusões. Ambos já mostraram o seu inegável talento em projetos anteriores, mas neste filme a bela Kirsten Dunst nunca parece atingir a sensualidade que o papel parece sugerir e nunca se torna nenhum tipo de presença essencial para o filme. Quando a sua personagem morre inesperadamente o filme não parece em nada se alterar por isso, mostrando logo a sua completa falta de necessidade dentro do filme. Isaac, que ainda o ano passado mostrou o seu charme e carisma, parece aqui uma presença vazia e nunca parece um igual de Mortensen apesar da superioridade que o filme parece tentar impor à figura do vigarista de Isaac.

 Apenas Mortensen parece conseguir extrair alguma coisa do papel que lhe foi dado, explorando neste filme um lado mais negro e perverso do que aquele a que estamos acostumados a associar ao ator. Consegue ser a figura mais interessante do filme, pelo que o modo como o filme parece insistir no protagonismo de Isaac se manifesta como um esforço vazio e ineficaz.

A química e tensão sexual que o filme parece sugerir nunca realmente se manifesta entre este elenco e nenhum dos vagos esforços de Amini resultam de modo algum. Falta-lhe tensão e carnalidade. Acrescentamos a esta deficiência o ritmo lento e lânguido do filme e obtemos um filme que é irritantemente letárgico e até aborrecido.

 A trama do filme é francamente previsível e bastante reminiscente de outros melhores filmes, o elenco com a exceção de Mortensen é francamente ineficaz e a realização de Amini deixa bastante a desejar. Este é o tipo de filme que enche os anais do cinema de Hollywood dos anos 50 e 60 que já foram esquecidos na sua simples mediocridade, enquanto outros filmes semelhantes terão perdurado graças ao modo prodigioso como se desenvolveram. É possível encontrar muito pouco desse prodígio neste filme que parece sempre almejar ser um thriller sofisticado de décadas passadas.


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