Este filme, que terá
sido coroado como o melhor filme em competição na edição deste ano do festival
de cinema de Lisboa e Estoril, é-nos apresentado como uma comédia, como uma
reflexão sobre o amor e mais especificamente sobre o período romântico na História
europeia, com uma perspetiva bastante germânica e até satírica. Uma dissecação
quase académica destes temas.
E será mesmo nesse
academismo que eu encontraria os grandes problemas do filme. Um filme que nos
expõe a solenemente ridícula história de um casal sobre o qual se abate um
trágico destino romântico. Falo de Henriette (Birte Schnoeink), uma jovem
aristocrata, um aparente ideal da beleza e simplicidade feminina da época, e Heinrich
von Kleister (Christian Friedel), um autor romântico com bizarras e extremas
noções de romantismo. Estas duas figuras são imediatamente ligadas na abertura
do filme quando observamos Henriette relatar o seu gosto por um poema romântico
escrito por Heinrich, ao seu bastante mais velho e inofensivamente paternalista
marido, Fredrich (Stephan Grossmann), revelando logo os interesses literários
do filme.
Acompanhamos as duas
figuras ao longo de um pacto desajeitado de se suicidarem num pseudo ato de
romantismo. Heinrich, na verdade, recorre a Henriette depois de ser rejeitado
por uma prima, pela qual ele parece estar apaixonado, e Henriette apenas parece
recorrer a Heinrich quando pensa, devido aos ridiculamente ineficazes
conhecimentos médicos da época, que vai morrer brevemente de qualquer modo. O
casal é assim levado ao suicídio, não por ideias românticos, mas para num caso
encher um pressuposto vazio e falta de propósito na vida, Heinrich chega a
dizer que sofre devido à vida, mas não devido à morte, e noutro caso por uma
inicial tentativa de controlar as condições da própria morte, quando a vida se
parece revelar vazia. O romance parece aqui revelado quase como uma fútil e
vazia ficção criada para se encher esse pressuposto vazio, para se ter um
propósito falso na vida, ou neste caso na morte.
Pelo meio temos
também uma exploração de uma aversão europeia a ideias com origem na Revolução
em França. Uma rigidez social de uma aristocracia já nessa época, obtusa e
fossilizada nos seus costumes arcaicos. Exploramos o ridículo das vidas destes
seres, que apesar de serem representados por humanos, pouco se assemelham a
tal, estando mais próximos de metáforas ou de símbolos utilizados numa
dissertação literária.
E chegamos de novo a
um dos meus grandes problemas com o filme, o facto de parecer flagrantemente óbvio
na sua crítica e na sua análise. O filme parece sempre uma dissecação sem vida
de um movimento literário e idealista, mais do que um filme. Não que não revele
por vezes um certo primor técnico em termos cinemáticos, mas existe um valor didáctico
a que é impossível escapar.
O filme parece querer
propor uma sátira, ou pelo menos uma comédia de costumes, mas ao mesmo tempo
almeja apo que se assemelha a uma reconstituição da época através do recurso à
pintura. A inspiração nessa arte pictórica é óbvia e impossível de negar. Basta
olhar para qualquer uma das rígidas composições do filme, cuidadosamente
criadas de tal modo que tudo parece ter o se rígido posicionamento, até os
figurantes na distante paisagem estão cuidadosamente posicionados de modo a
obter composições reminiscentes da pintura europeia da época. Algo que é apenas
reforçado pela cuidados cenografia e pelos figurinos, que apesar de tudo acabam
por revelar certas limitações orçamentais que impedem o filme de chegar aos
píncaros estéticos que tentaria alcançar.
Essa rigidez não se
encontra só na composição espacial, mas também no trabalho de ator, sendo que
grande parte do filme é passado a observar figuras que se mantêm estáticas no
meio de um tableau, quais estacas
desumanas das quais saem as falas necessárias à exploração intelectual que o
filme pretende realizar. Talvez isto seja uma procura de um registo estilizado,
um reflexo da rigidez social, uma tentativa de alcançar uma rigidez cómica, ou
pelo menos satírica como Wes Anderson ou Roy Andersson, mas nada disso se
parece registar. Em vez disso parece que obtemos um filme de manequins
estáticos sem vida em que é impossível encontrar qualquer tipo de subtileza, ou
para ser redutivamente franco, qualquer tipo de humanidade. Confesso
compreender as possíveis intenções da realizadora, mas não deixo de pensar
neste como um exercício um pouco falhado, pelo menos nestes aspetos.
Pondo de parte esta
rigidez, há que admitir que o filme contém em si uma bastante interessante
concretização plástica e que, nas mãos de um realizador com uma mais leve e
descontraída, ou mesmo mais estilizada e formal, direção, o filme poderia
manter toda a sua teoria literária e crítica social e humana, sem se tornar na
esteticamente bela mas asfixiante obra de exploração de um romantismo fútil e
vazio. As ideias que o filme quer expor não me parecem indicar fracasso, nem o
guião com toda a sua rigidez e motivações ridículas e admitidamente cómicas,
apenas penso que a versão que vemos perante nós no ecrã, não será a melhor
concretização de tão possivelmente interessantes, se bem que nada subtis,
intenções.
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