As
miraculosas interpretações de Brie Larson e Jacob Tremblay fazem de Room um dos
filmes mais comoventes de 2015, assim como um dos mais indispensáveis para quem
esteja interessado na corrida aos Óscares.
Room, uma adaptação
de um romance de Emma Donoghue dirigida por Lenny Abrahamson, relata a
história de uma mãe e filho que, depois de anos aprisionados num quarto, são
confrontados com a sua liberdade, que está longe de ser um idílico e
romantizado desfecho para o seu tormento. Toda a narrativa se desenrola a
partir da perspetiva de Jack (Jacob Tremblay), uma criança de 5 anos que, no
início do filme, nunca viu nada do mundo que se estende para além da sua
prisão, sendo que inicialmente nem consegue acreditar que tal exterior possa
existir. Longe de limitar prejudicialmente o impacto ou complexidade do filme,
esta insistência na perspetiva infantil confere à obra uma dimensão trágica
onde, mesmo assim, ainda há espaço para alguma esperança e luminosa humanidade.
Joy (Brie Larson) é a
mais fascinante presença em Room,
sendo vista unicamente a partir dos olhos de seu filho que muito não conseguem
compreender devido à sua ingénua inocência. Isto torna a observação da
protagonista maternal num jogo de perceção com a audiência que, mais do que o
seu jovem protagonista, consegue ir-se apercebendo de quão estilhaçada pelo seu
trauma está a personagem de Brie Larson. Um voz-off constante de Jack vai
contribuindo para este gentil retrato dos dois protagonistas, caindo, por
vezes, num sentimentalismo desnecessariamente evidenciado tanto pelo texto como
pela irritante e melodramática banda-sonora.
É o seu elenco que
permite a Room ser uma obra de
glorioso sentimentalismo que, na sua generalidade, consegue evitar o melodrama forçoso
sugerido por alguns dos seus elementos. Trembley, com apenas oito anos, cria um
dos mais avassaladores retratos do ano, e Larson oferece aqui o melhor esforço
da sua jovem, mas ilustre, carreira, sombreando a sua interpretação com
momentos de abrasiva frustração, fúria e desespero. O restante elenco é
igualmente formidável apesar dos seus limitados papéis, com especial menção
para Joan Allen como a mãe de Joy, que em breves momentos consegue estabelecer
uma presença tão complicada e multifacetada como a de Larson.
Infelizmente nem todo
o filme prima pela sua complexidade e surpreendente eficácia, sendo que a, já
mencionada, banda-sonora é um imparável desastre. Em vários momentos, a música
apenas acaba por revelar quão emocionalmente manipulador todo o exercício cinematográfico
está a ser, traindo, de certo modo, os esforços do seu elenco e mesmo do ocasionalmente
problemático texto. O último plano do filme, por exemplo, perde todo o seu
poder emocional devido a um acompanhamento musical demasiado insistente na
manipulação chorosa das emoções da sua audiência, quando a simples imagem dos
dois protagonistas a se afastarem do quarto titular pela derradeira vez seria
suficiente.
Isto é tão culpa de
Stephen Rennicks, o compositor do filme, como de Abrahamson que, especialmente
no que diz respeito aos sons, tem uma tendência para o convencionalismo
simplista que apenas prejudica a experiência total do filme. No entanto, há que
admitir que o realizador tem uma surpreendente capacidade de moldar o espaço
com a sua câmara, nunca permitindo que a primeira metade do filme desabe num
registo teatral, apesar do seu confinado espaço. A sequência de fuga também
revela um bom domínio de Abrahamson no que diz respeito à criação de tensão e
adrenalina, não esquecendo o seu foco humano, não fosse Room essencialmente um
espetacular exercício de atuação e perseverança humana.
Room é o único filme norte-americano em
competição no LEFFEST’15, e mesmo que não arrecade qualquer prémio na cerimónia
de Encerramento do festival, o seu lugar na corrida aos Óscares parece estar
cimentado. Brie Larson, em particular, tem vindo a revelar-se como a inicial
favorita para o galardão de Melhor Atriz. No entanto, Trembley será tão
merecedor de tais honras como a sua coprotagonista, sendo que o jovem ator
oferece às suas audiências uma das mais formidáveis interpretações infantis das
últimas décadas de cinema. O filme como um todo tem alguns problemas, há que
dizer, mas é uma inegável experiência de emoções arrebatadoras, que consegue
ser tocante mesmo quando a manipulação emocional é grosseiramente óbvia.
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